Se cada um dos brasileiros tivesse o direito a opinar sobre o orçamento da União, certamente não acharia correta a destinação de mais de 55% da verba total para gastos com aposentadorias e pensões, enquanto a educação fica com menos de 10% dessa destinação e os investimentos em infraestrutura e melhorias não passam de 5% do montante. Mas é exatamente isso que vem ocorrendo hoje, de maneira compulsória e crescente. A previdência, um ralo estupendo pelo qual escoa boa parte da riqueza nacional, consumirá exatos R$ 720 bilhões neste ano.

Uma montanha de dinheiro que trava qualquer projeto mais consistente de retomada da economia tendo o Estado como um dos indutores. Na prática, o país das chuteiras preferiu “jogar” seu futuro no lixo. Ao invés de prevenir, escolheu remediar. Gasta seis vezes mais com os idosos do que com os jovens – uma herança multibilionária que, se bem preparada e instruída, poderia ser a alternativa para colocar o Brasil entre as maiores e mais desenvolvidas nações do planeta. E o que dizer da lei trabalhista, obsoleta – dos tempos da era Vargas – que em nada se coaduna com a realidade vigente na atual relação patrão e empregado? Longe de ser uma ferramenta que “protege” o lado mais frágil dessa corrente, ela serve como inibidora de contratações e estimuladora do mercado paralelo, marginal e desconhecido.

No plano político, salta aos olhos de qualquer um, sem mudanças concretas nas regras que regem partidos, contribuições e modelo de voto não há caminho decente possível. Esgotaram-se as margens de negociação. Parlamentares com um pingo de senso de responsabilidade e noção do dever a cumprir precisam encaminhar todas essas reformas o mais rápido e da forma mais republicana possível. Sem interesses pessoais e eleitorais pautando as escolhas. Não é possível afundarem um país em nome de conchavos, de práticas deletérias do toma-lá-dá-cá, visando em primeiro lugar o próprio bolso. Serão, caso hajam assim, cobrados lá na frente.

O mundo olha para o Brasil nesse momento atento ao desenrolar dessa pauta de medidas urgentes. Bilionários investimentos estão represados à espera das definições. Analistas apontam que sem as reformas o Brasil poderá entrar em um novo e interminável período de trevas, nos moldes do que ocorreu na Grécia e, mais recentemente, na Venezuela. Que essa não seja a opção escolhida. A serenidade e sensatez, para longe das pressões pontuais desse ou daquele grupo minoritário de interesses, deve prevalecer. Produtividade, modernização e desenvolvimento andam juntos com a evolução das leis que dão ferramentas para uma nação mais justa e próspera.

(Nota publicada na Edição 1016 da Revista Dinheiro)