O setor de construção civil foi um dos que mais sofreu com a crise econômica que tomou conta do País nos últimos anos. Por isso mesmo, chama a atenção quando uma empresa da área anuncia crescimento. Foi o que aconteceu com a Even. Na prévia de resultados do 4º trimestre de 2016, ela demonstrou que lançou R$ 1,1 bilhão em novos empreendimentos, R$ 300 milhões a mais do que em 2015. Apesar do salto, está longe – bem longe – dos tempos áureos, quando lançava, em média, R$ 2,3 bilhões por ano. O copresidente da companhia, Dany Muszkat, falou à coluna, fez um balanço dos últimos anos e disse quais são suas expectativas para 2017. Acompanhe:

A Even surpreendeu muita gente ao lançar mais em 2016 do que em 2015. A crise passou?
De fato, em 2016, a Even lançou o equivalente a R$ 1,1 bilhão, mais do que os R$ 800 milhões em 2015. Mas precisamos analisar isso de outra forma. Se compararmos com a média daquilo que lançamos em 2012, 2013 e 2014, os números estão 50% abaixo. Antes, lançávamos R$ 2,3 bilhões por ano. O que houve foi uma brecada muito forte em 2015 e, em 2016, estabelecemos o seguinte critério para lançamento: identificamos a aceitação do nosso produto no mercado e, combinado com as vendas dos nossos produtos já em estoque, continuamos lançando. Ou seja, lançou, foi bem? Sinal verde para lançarmos outro. No final do dia, esse crescimento aconteceu porque, em 2015, a base era bem menor do que nos três anos anteriores.

Essa crise forçou a companhia a mudar o jeito de trabalhar?
Existiu uma reprecificação ao longo de 2015 e, em 2016, tivemos o cuidado de pôr o produto no preço correto e priorizar o foco no usuário final, e não no investidor.

Então quer dizer que o preço praticado estava fora da realidade?
Em 2015, vínhamos de um mercado que estava em alta. Mas a chegada da crise e a elevação da taxa de juros fizeram os preços cair. Os lançamentos de 2016 já foram realizados num novo patamar. O preço nominal está 10% abaixo. Mas é importante frisar que os nossos lançamentos tiveram uma grande aceitação. Vendemos, dentro do ano, mais de 50% desse R$ 1,1 bilhão.

Qual é a expectativa para 2017?
Com a expectativa da queda da taxa de juros próxima de um dígito até o final de 2017, a taxa de financiamento imobiliário será menor e a capacidade de pagamento do cliente será ampliada. Além disso, a tendência é uma recomposição do dinheiro aplicado em poupança, que vem direto para o nosso mercado, junto com o aumento do apetite dos bancos em aplicar no setor imobiliário.

A companhia já tem projeção de lançamentos para 2017?
Esse número nós não abrimos, mas digo que temos capacidade produtiva e um banco de terrenos que nos permite fazer mais em 2017. Mas isso só vai se confirmar depois de aplicada a mesma regra que seguimos em 2016, de lançar um produto, ver a aceitação e partir para o próximo.

Quanto a Even tem em estoque?
Temos R$ 2,2 bilhões em todas as praças e em diferentes fases. O nosso banco de terrenos é de R$ 5,3 bilhões, que, normalmente, nos dá fôlego para três anos de lançamentos.

As incorporadoras e construtoras estão comprando terrenos de olho na volta do crescimento do setor. A empresa, então, não precisa participar dessa disputa?
Continuamos atuando na compra de terrenos, mas a vantagem de ter um estoque adequado nos coloca numa posição de comprar apenas terrenos bem negociados.

Um dos problemas da indústria é a questão dos atrasos na entrega dos imóveis. Como está isso?
Temos entregado as obras, majoritariamente, com antecedência. No ano passado, entregamos R$ 2,3 bilhões em VGV (Valor Geral de Vendas) na data do lançamento. Em 2015, entregamos R$ 2,1 bilhões.

Qual é a sua avaliação do governo para o setor?
O que é importante é a discussão sobre a regulamentação em relação aos distratos. Hoje, a lei, da forma como ela está, prejudica o investimento em novos negócios. Ela é uma lei muito dura. Atualmente, se um cliente compra um apartamento e teve uma redução de valor, ele vem buscar o distrato. Por sua vez, se o cliente compra um apartamento e tem um aumento de valor, a incorporadora não pode distratar. É desigual e esse aumento do volume de distratos dos últimos três anos é um risco para o setor.

Aumentou o número de distratos na Even?
O distrato está muito ligado ao número de entregas. Quando você entrega mais, tem mais distrato. Mas, comparando os primeiros nove meses de 2016 com o mesmo período de 2015, tivemos um aumento de 25%. Isso influencia no nosso resultado.

(Nota publicada na Edição 1004 da revista Dinheiro, com colaboração de: Cláudio Gradilone, Luís Artur Nogueira e Márcio Kroehn)