A inovação é um dos pilares do Sloan Fellows, MBA da MIT (Massachusetts Institute of Technology), onde acabei de me formar. O tema está na pauta do dia e não para de cutucar empresas milenares mais tradicionais, bem como novos empreendedores em busca da receita bilionária para dar à luz o próximo unicórnio.

A receita para inovação faz parte dos pilares das empresas que normalmente tendem a ser pouco valorizados e desenvolvidos, como a cultura. Dentro deste tema, uma das perguntas mais instigantes que nos desafiaram a responder foi “como Amazon, Apple e Alphabet, as Triple As, desenvolveram uma cultura inovadora sustentável capaz de se reinventar constantemente, chacoalhando novos mercados?”

Sim, é a pergunta de 1 bilhão (ou muito mais) de dólares.

Parte da resposta veio no livro Creativity Inc.: Overcoming the Unseen Forces That Stand in the Way of True Inspiration, que conta a história da Pixar e de como a empresa criou uma cultura inovadora sustentável a ponto de chamar a atenção da Disney e ser comprada por uma das maiores companhias de entretenimento do planeta.

O autor Ed Catmull, co-fundador da Pixar Animations junto com Steve Jobs e John Lasseter, destaca um teorema aplicado na companhia para motivar e manter a criatividade nos negócios que batizei de 3 Ps: Processos, Princípios e Práticas.

Os processos têm como foco estruturar um aprendizado contínuo que favoreça a criação e manutenção de uma cultura inovadora arraigada, impregnada no DNA do negócio.

Sua implementação deve ter como horizonte vencer os 4 Ds da curva de aprendizado (learning curve): discovery, develop, delivery e destroy, que foi apresentada por Hal Gregersen, Diretor Executivo do Centro de Liderança na MIT.

O primeiro grande alerta do processo é para o sucesso não subir à cabeça após uma descoberta (discovery) inovadora. O risco é a empresa imaginar que descobriu a fórmula da Coca-Cola e passar apenas a focar no desenvolvimento (develop) e na entrega (delivery), entrando em uma perigosa zona de conforto e alienando a inovação no futuro por não se permitir voltar ao estágio da contínua exploração e descoberta.

Essa zona é chamada de destruição (destroy). A punição vem em forma de estagnação do negócio, perda de vantagem competitiva e interrupção do crescimento.

É o caso de algumas empresas tradicionais, como a Kodak, por exemplo, que durante muitos anos foi uma das líderes de mercado e deu várias contribuições inovadoras no mundo da fotografia quando ainda se usava filme de rolo. Porém, a companhia se perdeu complemente com a invenção e o crescimento vertiginoso das câmeras digitais, o que a levou a decretar falência em 2012 após 122 anos de vida.

A Kodak deixou de inovar e destruiu o negócio em que antes nadava de braçada. O segredo, então, está em como criar processos que motivem o time a estar sempre retornando para fase da descoberta, em um círculo virtuoso de inovação para encontrar a próxima s-curve ou curva de inovação exponencial.

O segundo P está relacionado a como uma empresa consegue criar princípios que norteiam sua cultura organizacional. São mantras seguidos por seus líderes e colaboradores que sustentam o ciclo contínuo de inovação.

No caso da Amazon, uma das Triple As, são 14 princípios que vêm certamente impulsionando sua conquista de liderança em diferentes mercados, entre eles “obsessão pelo cliente”, “inventar e simplificar”, “contrate e desenvolva os melhores”, “pense grande”, “mergulhe fundo” e “entregue resultados”.

Por fim, o terceiro P tem como alicerce a premissa de que a inovação pode partir de qualquer setor da organização e não somente do time de desenvolvimento ou de seus líderes estratégicos.

A inovação tem que ser uma prática da organização. Não é algo que surja apenas do topo para baixo (top down), mas pode estar na visão disruptiva de qualquer colaborador (bottom up) com uma capacidade de criar e inovar muitas vezes subestimada pelos líderes.

Para manter uma cultura de inovação permanente, o Google implementou sua conhecida prática de estimular seus executivos a dedicar 20% do seu tempo remunerado (um dia da semana) para pensar em novos projetos. Foi deste programa que surgiram ideias bem-sucedidas como Gmail, Google AdSense, Google Talk, Google News e também outras que nunca foram adiante.

Faz parte. Na visão destas empresas, assumir riscos e errar é a melhor forma de inovar.

O laboratório Google X reúne um time de engenheiros dedicados a novas descobertas, invenções disruptivas e que não necessariamente serão lançadas ou entrarão no mercado no curto prazo, mas que ajudam a perpetuar o pensamento “fora da caixa” e um olhar contínuo para o futuro.

Empresas disruptivas como as 3As estimulam seus funcionários a ter a mentalidade dos donos. Eles têm poder para tomar decisões e são motivados a pensar o tempo todo fora da caixa. Empresas inovadoras sabem como aproveitar o poder cerebral do coletivo e de seu exército com soldados recrutados nas melhores universidades do mundo.

Na obra Wisdom of the Crowsds, James Surowiecki, defende que a decisão em colegiado tem um poder infinitamente maior do que as tomadas individualmente. A chance da inovação emergir de milhares de cabeças é muito maior do que se estiver restrita aos que são nomeados líderes, mas que não são necessariamente gênios.

Os projetos arquitetônicos dos escritórios, com áreas sociais e de lazer, não são apenas para as fotos de revistas, mas para aquecer a criatividade em um ambiente aberto e colaborativo, um convite à interação e proposição de ideias inovadoras.

Um dos prédios da Amazon é batizado de Day 1, para que os funcionários encarem todos os dias como sendo o primeiro na empresa. Até o final deste ano, a Apple está inaugurando o Apple Park, sua nova sede em Cupertino, que já começou a receber os colaboradores em um campus especialmente desenhado para favorecer a inovação e abastecido totalmente com energia renovável para preservação do planeta.

Nas palavras do CEO Tim Cook, “o Apple Park será a casa da inovação para as próximas gerações. As áreas de trabalho e o terreno foram pensados para inspirar nosso time e beneficiar o meio ambiente”.

Como estão os 3Ps na sua organização?

Que processos já implementou para desenvolver uma cultura de inovação sólida, capaz de se retroalimentar de forma sustentável? Quais são seus princípios para ser reconhecida como uma empresa alinhada com os novos anseios dos consumidores? Que práticas já adotou para permitir que a criatividade se manifeste de qualquer visionário hoje escondido em algum canto do escritório?

Se seu negócio já tem uma cultura inovadora, cuide para perpetuá-la. Se ainda não tem, fica o convite: seja você o agente desta transformação!

(*) Venâncio Velloso é empreendedor, fundador do WebPesados e da consultoria DIB (Digital Innovation Builders). Acaba de retornar ao Brasil depois de uma temporada em Cambridge, onde foi cursar MBA no MIT (Massachusetts Institute of Technology).