Desde a divulgação da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, na noite de 17 de maio, a política brasileira voltou a entrar em ebulição. O mercado acionário não ficou imune. Além da queda acumulada de 6,4% no Índice Bovespa até a quinta-feira 25, algumas ações desabaram. Entre elas, não surpreendentemente, as do frigorífico JBS, controlado pela família Batista. Até a quarta-feira 24, a queda acumulada foi de 29,4%. No dia seguinte, essa desvalorização se havia atenuado para 13,5%.

Ainda está barato e é hora de comprar? Ou ainda pode cair mais, e a hora é de especular na baixa? Ou o melhor mesmo é deixar essa decisão para os profissionais? Não se constranja se você está em dúvida. Alguns dos profissionais mais capacitados do mercado acalentam as mesmas incertezas. Na quarta-feira, o banco Credit Suisse informou que estava encerrando sua cobertura das ações da JBS. Na prática, os analistas do banco avaliaram que não tinha mais condições para recomendar com segurança a compra ou a venda dos papéis da empresa.

Só para constar, antes dessa decisão a ação era considerada como tendo um desempenho potencial acima da média do mercado, com um preço-alvo de R$ 24. As justificativas do banco para abandonar a cobertura são a existência de muitos fatores imponderáveis. Entre eles, a cobrança ou não de uma pesada indenização pelo acordo de leniência, que pode chegar a R$ 11 bilhões, o boicote aos produtos da marca e a recusa de varejistas em comprar os produtos por violação aos códigos de ética.

Telmo Schoeler: nem sempre empresas em recuperação são pechinchas
Telmo Schoeler: nem sempre empresas em recuperação são pechinchas (Crédito:Flavio R.Guarnieri)

Casos com o das ações da JBS ilustram uma dúvida cotidiana no mercado. Periodicamente, os pregões são afetados por crises. O gráfico que ilustra esta reportagem mostra o Índice Bovespa desde 1984, descontando a distorção da inflação. É fácil perceber que os preços ainda não atingiram o pico anterior à crise imobiliária americana, em 2008. Ou seja, um investidor que tivesse comprado ações imediatamente antes da explosão da crise ainda não teria recuperado seu capital.

Já em outros casos, a recuperação foi muito rápida. Em janeiro de 1999, o pânico momentâneo provocado pela desvalorização do real em relação ao dólar, que causou uma baixa de 22%, foi compensada em menos de um mês. “A perspectiva de que as distorções na economia provocadas pelo câmbio congelado seriam corrigidas deixou o mercado eufórico”, avalia William Eid Júnior, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas. Algo semelhante ocorreu três anos depois.

A perspectiva de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, um candidato tido como honesto, mas radical, apavorava os investidores. Em setembro de 2002, quando a eleição foi praticamente confirmada pelas pesquisas, o dólar chegou a R$ 4 e as ações desabaram 39%. Pouco mais de um ano depois, o Índice Bovespa retomava os patamares anteriores e engatava uma alta que duraria mais cinco anos. Mesmo a crise dos subprime, que fez o mercado desabar, abriu uma enorme oportunidade de ganho. Ao longo de 2009, as ações praticamente retomaram o patamar anterior.

Como prever esses movimentos? Na prática, é um trabalho hercúleo não se contaminar com a ciclotimia dos pregões, mais ainda no caso brasileiro. “O grande problema do mercado é que é difícil compreender os movimentos, e mesmo assim só é possível entendê-los a posteriori”, diz o analista de investimentos Fernando Costa. “O dilema dos investidores é mais ou menos o dos militares, que combatem hoje com a estratégia da guerra anterior.” As crises também têm efeitos danosos sobre as empresas.

Companhias antes estelares nos pregões, como a incorporadora PDG e a telefônica Oi, pediram recuperação judicial e suas ações estão baratas. À primeira vista, ambas estão sendo negociadas com desconto e gozam da vantagem de renegociar suas dívidas. A saída da crise é só questão de tempo. No entanto, Telmo Schoeler, sócio da consultoria Orchestra Gestão Empresarial, especializada em recuperar empresas, recomenda cautela nesses casos.

“Nem sempre uma empresa que está em recuperação é recuperável”, diz ele. “Muitas vezes, o plano de recuperação apenas posterga o pagamento aos credores, mas não corrige os problemas estruturais da companhia.” O mesmo raciocínio vale para empresas cujas ações desabaram. É extremamente difícil saber diferenciar se a queda ocorreu por temor do mercado ou por deficiências da companhia. Na dúvida, avalia Costa, vale a recomendação de Buffett. Comprar boas empresas, com valor intrínseco – ou seja, a capacidade de gerar bons resultados mesmo em tempos de crise – e ater-se a elas. E procurar não dar ouvidos ao ruído.

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