Os dois diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que entregaram ontem os seus cargos dispararam críticas ao posicionamento de Paulo Rabello de Castro, presidente da instituição, sobre a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP). Vinícius Carrasco, considerado no banco o “pai da TLP”, disse que só teve conhecimento da posição de Castro pela imprensa, enquanto Claudio Coutinho afirmou não ser possível “conviver com uma diretriz tão diferente” da estabelecida pela antecessora no cargo, Maria Silvia Bastos Marques.

Os dois diretores estiveram envolvidos durante meses nas discussões sobre a criação da TLP, que poderá substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada atualmente nos empréstimos do banco. Ambos foram para o banco a convite de Maria Silvia. Os pedidos de demissão foram uma reação à entrevista dada pelo presidente do BNDES ao Estadão/Broadcast.

“No meu entendimento, os reparos feitos por ele (Castro) podem, se levados a cabo, macular definitivamente as vantagens da proposta”, disse Coutinho. O ex-diretor das áreas Financeira, de Crédito e Internacional afirmou ainda que os conceitos da MP 777, que cria a TLP, foram exaustivamente discutidos pelas equipes do BNDES, do Banco Central, da Fazenda e do Planejamento.

Na visão de Coutinho, ainda podem ser feitas modificações que aperfeiçoem a MP, desde que não tirem as principais vantagens do instrumento. “Falar em flexibilização do prazo de convergência é possível, por exemplo”, disse. Na proposta atual, a TLP vai convergir para a remuneração da NTN-B em cinco anos. “Pode convergir em sete ou oito anos. Isso pode ser discutido, mas não dá para colocar a arbitrariedade de se reduzir a taxa. Isso tiraria o que ela tem de melhor, que é ser uma taxa de mercado”, disse.

Coutinho faz referência a uma declaração do presidente do BNDES. Rabello disse que “em um momento muito agudo (de alta desses juros), um projeto de longo prazo pode não resistir financeiramente à TLP”.

Na visão do diretor, ficou implícito que a solução para isso poderia ser a aplicação de um redutor na taxa pelo governo. “Se tiver um redutor a ser aplicado no futuro à TLP, isso vai tirar completamente a capacidade dessa taxa de ter liquidez”. Para ele, se houver a possibilidade de se reduzir a taxa por um “decreto ou canetada” ninguém vai comprar papéis atrelados a ela.

O outro diretor, Vinícius Carrasco, disse que não havia mais sentido continuar no banco dado que a TLP é um projeto que foi iniciativa do BNDES. Segundo o ex-diretor de planejamento e pesquisa, Rabello de Castro nunca tinha lhe falado sobre as críticas à TLP. “Não discutiu em nenhum momento. Conversamos quando ele assumiu, falei que deveríamos dar continuidade ao que a Maria Silvia fazia de maneira acelerada. Me parecia que ele concordava.”

Para Carrasco, a TLP vai passar, mesmo com as críticas do presidente do BNDES. “Acho que os benefícios são tão grandes que, uma vez comunicados e discutidos nas audiências públicas e levados à discussão no Congresso, a TLP vai passar e vai passar bem.”

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, outros dois diretores podem deixar o cargo, o que abriria uma situação ainda de maior desconforto para o presidente do banco. Há a preocupação de que essas vagas possam ser cobertas com indicações políticas.

Sobre os dois diretores que pediram demissão, Rabello declarou que “eles são padrinhos intelectuais da MP, ótimos profissionais”. “Num momento em que a MP entra numa fase de discussão, eles não gostariam de estar como observadores de uma eventual modificação ou aperfeiçoamento.”

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