Nos últimos meses, em meio ao debate sobre as reformas na Previdência Social, um ponto acabou despertando a atenção de muitos brasileiros. Afinal, existem empregos para quem tem mais de 50 anos? A resposta pode ser dividida em três afirmativas antagônicas, mas, de certa forma, complementares entre si: sim, não e depende.

A recente Carta de Conjuntura divulgada pelo IPEA, mostra que, em 2016, o único contingente da pirâmide etária beneficiado com acréscimo de vagas foi aquele composto por trabalhadores com mais de 59 anos. O aumento foi de 1,1% e o dado significa que os brasileiros estão permanecendo por mais tempo em atividades produtivas. Ou mesmo voltando a buscar trabalho depois de aposentados.

De fato, “pendurar as chuteiras” nem sempre é uma decisão fácil. Às vezes, pode significar uma quebra tão grande na rotina que afeta até mesmo o emocional, acelerando a ocorrência de doenças. Foi a partir de uma experiência nesta linha que o paulistano Mórris Litvak, 34 anos, pensou em criar a startup MaturiJobs, em meados de 2015. Trata-se de uma agência virtual de empregos, especializada em profissionais com mais de 50 anos.

“Minha avó paterna tinha uma ótima qualidade de vida enquanto trabalhava. Aos 80 anos ela sofreu um pequeno acidente e parou de trabalhar. Foi aí que sua saúde se deteriorou rapidamente”, lembra. Essa experiência, somada ao período em que atuou como voluntário em asilos fizeram com que Mórris passa-se a prestar mais atenção neste grupo de brasileiros.

O começo foi relativamente tranquilo. Afinal, intimidade com o mundo da Tecnologia da Informação (TI) não lhe faltava, pois havia se graduado em engenharia de software. Tampouco recursos, uma vez que tinha em mãos as economias amealhadas com a venda de uma empresa de reservas eletrônicas de vagas em hotéis, criada em sociedade com o pai.

Em menos de dois anos a MaturiJobs já experimentou alguns saltos. O primeiro deles aconteceu em 31 de agosto de 2016, durante o programa de pré-aceleração promovido pela Social Good Brasil (SGB Camp), em Florianópolis. Na ocasião, Mórris bateu outros nove concorrentes e acabou sendo incluído no portfólio da Yunus Social Business – braço de aceleração de negócio da ONG global fundada pelo bengali Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

Mais recentemente, em meio às discussões sobre a reforma da previdência, Mórris se tornou ativo em debates e entrevistas sobre o tema. A soma da divulgação orgânica (o famoso boca-a-boca) com a maior exposição na mídia acabou impactando positivamente a MaturiJobs. Nos últimos 40 dias, o número de profissionais cadastrados saltou de 16 mil para 40 mil. No caso das empresas, o avanço foi de 400 para 500 parceiras.

Diante desta nova realidade, o empreendedor acredita ser possível fechar 2017 com 120 mil cadastrados e 800 empresas. Números 20% e 60%, respectivamente, acima dos projetados anteriormente para o período.

Além de anunciar suas vagas na plataforma e ter acesso aos cadastros, as empresas também podem contratar serviços de consultoria para programas de integração geracional. Tudo sob medida. Para dar conta disso tudo, a MaturiJobs possui uma equipe de cinco pessoas, incluindo os sócios. “De repente as pessoas se deram conta da evolução da pirâmide etária do Brasil e as empresas começaram a enxergar que era preciso apostar, também, na diversidade etária”, destaca.

Mórris coloca bastante fé na startup. Segundo ele, o modelo de negócio é escalável e capaz de ser replicado em nível global. “Fiz uma pesquisa e descobri que não existe nada parecido lá fora”, diz. “Ao menos por enquanto”.