Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A indústria brasileira voltou a registrar queda em agosto, com destaque para as perdas em produtos derivados de petróleo, ainda com dificuldades de deslanchar e retomar o patamar pré-pandemia em um ambiente de juros altos no país.

A produção industrial teve em agosto recuo de 0,6%, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para meses de agosto, foi o resultado mais fraco desde 2018 (-0,9%).

O resultado ficou em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters, e apagou o ganho de 0,6% visto em julho. Com isso, o setor está 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 17,9% aquém do nível recorde alcançado em maio de 2011.

“Agosto causa um aprofundamento desse distanciamento de parâmetros, como nível pré-pandemia e ponto mais alto da série histórica”, destacou o gerente da pesquisa no IBGE, André Macedo. “À medida que a indústria vai se afastando dos efeitos positivos das medidas de incentivo do governo, vai perdendo fôlego.”

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial teve aumento de 2,8%, um pouco melhor que a expectativa de alta de 2,3% na base anual.

O setor industrial vem mostrando um comportamento errático ao longo do ano, com avanço em cinco meses e queda em três até agosto. O segundo semestre deve continuar sendo de dificuldades, uma vez que o setor industrial enfrenta, além das condições de crédito mais apertadas, desaceleração da economia global e demanda externa mais fraca.

“Do lado positivo, os cortes de impostos de combustíveis e energia e aumentos significativos nas transferências às famílias devem aliviar a esperada desaceleração da atividade”, avaliou Alberto Ramos, do Goldman Sachs.

DERIVADOS DE PETRÓLEO

O mês de agosto foi marcado pela concentração dos movimentos de queda em 8 das 26 atividades pesquisadas, sendo a maior influência negativa para o resultado do mês foi dada pelo setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com recuo de 4,2%, depois de crescimento de 1,8% em julho.

Também se destacaram negativamente os desempenhos das indústrias de podutos alimentícios (-2,6%), interrompendo três meses seguidos de alta, e das indústrias extrativas (-3,6%), que eliminaram parte do avanço de 4,6% acumulado em junho e julho.

“Esses três segmentos – derivados de petróleo, alimentos e extrativo – são os que mais pressionam a indústria como um todo. Juntos, eles respondem por cerca de 36% do setor industrial”, disse Macedo.

Entre as categorias econômicas, bens de consumo semi e não duráveis e bens intermediários apresentaram cada uma contração de 1,4% da produção.

Por outro lado, a fabricação de bens de consumo duráveis aumentou 6,1%, enquanto a de bens de capital, medida de investimento, cresceu 5,2%.

“(…) Apesar da melhora no fluxo de insumos, matérias-primas e dos estoques, a situação permanece ainda distante da normalidade, o que afeta diretamente o custo de produção”, explicou Macedo.

Ele lembrou anda que, apesar das medidas de incremento de renda, as famílias continuam sendo afetadas negativamente por juros e inflação em patamares elevados, o que aumenta o custo do crédito e reduz a renda disponível.

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