Os funcionários britânicos responsáveis pelas negociações com a União Europeia (UE), as mais importantes de seu governo desde 1945, terão um papel essencial com um orçamento menor, número de trabalhadores reduzido e carga de trabalho extraordinária.

Criado em julho, três semanas depois do referendo, o ministério do Brexit – que tem como nome oficial Departamento para a Saída da UE – teve que recrutar em caráter de urgência centenas de funcionários, de outros ministérios e do setor privado.

“Somos pouco mais de 300”, disse à AFP Sarah Healey, diretora geral do ministério, instalado no número 9 de Downing Street, ao lado da residência da primeira-ministra Theresa May. O titular do ministério é David Davis, um conservador histórico.

Ao ser questionada se a pasta possui os recursos para enfrentar as negociações que começarão em breve, Healey responde de maneira afirmativa.

“É o númer oque havíamos fixado para cumprir com esta missão”, explicou, antes de admitir que a equipe continua crescendo.

“É como um time de futebol que começa a partida com nove jogadores em campo e dois colocando o uniforme no vestiário”, ironizou o deputado trabalhista Gareth Thomas, citado pelo jornal Evening Standard.

Londres pode utilizar os 120 funcionários que mantém em Bruxelas, mas todos os analistas projetam meses difíceis para os britânicos.

“A administração enfrenta seu maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial, mas o número de funcionários não era tão reduzido em 70 anos”, destacou o Institute for Government, um organismo de análises, em um relatório recente.

Os vários pacotes de austeridade desde a crise provocaram uma redução de 18,5% do número de funcionários públicos desde 2010. O número atual é de menos de 400.000 trabalhadores, três vezes a menos que em 1944.

– A grande fadiga –

Uma dificuldade adicional é que os funcionários enfrentam “tarefas às quais não estão acostumados”, recorda o Institute for Government.

Desde sua entrada em 1973 na Comunidade Econômica Europeia, embrião da UE, Londres não negocia nenhum acordo comercial, uma prerrogativa da Comissão Europeia.

Diante da falta de negociadores experientes no Reino Unido, outro ministério envolvido no Brexit, o de Comércio Internacional, decidiu contratar especialistas canadenses, australianos e neozelandeses.

“Os britânicos têm sido hábeis, em geral, nas negociações dentro da União Europeia. Não há motivo para pensar que não serão quando negociarem com a UE”, relativiza Anand Menon, professor de Ciências Políticas do King’s College de Londres.

Mas, completou, “evidentemente existirão tensões entre os diferentes ministros sobre as prioridades” nas negociações.

“Com três ministérios – Relações Exteriores, Brexit e Comércio Internacional – nas negociações, inevitavelmente perderão tempo e energia em disputas internas”, prevê o Institute for Government.

Para Sarah Healey, independente do que acontecer, o Brexit terá uma virtude: atrair “talento novo” para o governo. Resta saber se as pessoas permanecerão uma vez concretizada a saída.

Anand Menon tem uma certeza: “Muitos funcionários dos ministérios podem acabar esgotados após os dois anos”.

“Será muito complicado para o governo administra os assuntos cotidianos ao mesmo tempo que o divórcio com a UE”.