Acostumadas a trilhar um caminho à parte dos altos e baixos do mercado brasileiro, as marcas de carros premium não escaparam ilesas da crise vivida pela indústria automotiva. Em 2016, as vendas dos modelos dessa vertente no País tiveram uma queda de 28,35%, para 48,6 mil unidades, segundo dados da consultoria Jato Dynamics. Um dos ícones desse segmento, a Porsche, no entanto, percorreu uma rota totalmente oposta, ao registrar um salto de 38% no período, para 1.010 unidades.

O ponto de partida para esse ganho de tração foi dado em julho de 2015, com a instalação de sua subsidiária brasileira, a primeira e única da companhia na América Latina. Até então, a empresa atuava localmente por meio de uma importadora, a Stuttgart Sportcar, que detém 25% na nova operação. Prestes a completar dois anos dessa iniciativa, a Porsche comemora os resultados da investida. E segue reforçando seus laços com os aficionados da marca no Brasil.

Diego Lopez, diretor de pós-vendas da Porsche no Brasil: “Vamos entregar as peças em estoque às concessionárias em até 24 horas, em todo o País”
Diego Lopez, diretor de pós-vendas da Porsche no Brasil: “Vamos entregar as peças em estoque às concessionárias em até 24 horas, em todo o País” (Crédito:Duda Bairros Fotografia)

“A despeito de ser em um momento de crise, nós entramos no Brasil na hora certa”, diz o alemão Matthias Brück, 45 anos, presidente da montadora no País. “O mercado brasileiro voltou aos níveis de dez anos atrás. Mas a Porsche não. Passo a passo, estamos consolidando nossa presença no País.” O movimento mais recente dessa estratégia foi a inauguração de um centro local de distribuição de peças. Instalado em uma área de três mil metros quadrados em Embu das Artes, cidade da Grande São Paulo, a unidade entrou em operação em fevereiro e é a 13ª da montadora no mundo.

O aporte no projeto não foi revelado. Segundo Brück, boa parte dos recursos foi destinada à implantação dos softwares que interligam a estrutura ao principal centro de distribuição da companhia, em Sachsenheim, na Alemanha. Com cinco funcionários no local, todo o planejamento e o controle de estoque é feito na matriz. “O centro é uma parte crucial da nossa estratégia no Brasil”, diz o executivo. “Nesse segmento, em especial, não basta ter um produto de extrema qualidade. Os serviços e o pós-venda também precisam manter esse nível.”

Inicialmente, o centro brasileiro está operando com um estoque de três mil peças. Até o fim do ano, o plano é chegar a 7,6 mil peças, o que representará cerca de 90% das peças que compõem os carros da montadora. A unidade comporta ainda uma expansão para cerca de 12 mil itens, prevista para acontecer em 2019. Grande parte desse volume envolve componentes de maior giro, relacionados à manutenção preditiva. O local também abrigará acessórios da linha Tequipment, para a personalização de cada modelo, e da Porsche Driver’s Selection, com produtos como miniaturas, roupas e bonés da marca.

O projeto vai trazer reflexos diretos no atendimento aos clientes da Porsche. “No caso das peças em estoque, vamos entregar aos concessionários em até 24 horas, em qualquer parte do País”, afirma Diego Lopez, diretor de pós-vendas da Porsche no Brasil. “Antes, o prazo, em média, era de dez dias.” O executivo não revelou uma estimativa de queda de preços. Um filtro de ar do esportivo 911 Carrera, por exemplo, custa em média R$ 609, 95. Uma lanterna traseira do mesmo modelo sai pela bagatela de R$ 8,1 mil.

Cobertura: em 2016, a Porsche inaugurou três concessionárias no Brasil
Cobertura: em 2016, a Porsche inaugurou três concessionárias no Brasil (Crédito:Divulgação)

A instalação do centro complementa outras medidas da Porsche desde que iniciou sua operação direta no Brasil. Uma ponta foi a expansão da rede de concessionárias, tocada pelos parceiros Stuttgart Sportcar e Eurobike. No segundo semestre, com a abertura das lojas de Recife, Florianópolis e Campinas, a companhia totalizou nove unidades no País. A montadora segue com planos de expansão, porém, com cautela. “Só é válido abrir uma loja se for possível garantir o retorno do investimento do parceiro”, diz.

Ele observa que Belo Horizonte, o Nordeste e o interior de São Paulo são locais nos quais faria sentido investir em novos projetos. Outra vertente que ganhou força no período foi a ampliação do portfólio local. Entre os exemplos estão o lançamento da linha de entrada do 911 Carrera, um dos símbolos da marca, e o modelo híbrido do utilitário Cayenne. Hoje, a linha da Porsche no Brasil inclui 6 modelos, em 36 versões diferentes.

A faixa de preço varia de R$ 307 mil a R$ 1,27 milhão. “A instalação da subsidiária fez toda a diferença”, diz Milad Neto, analista da consultoria Jato Dynamics. “Eles souberam adequar a oferta ao mercado brasileiro.” Mesmo com os bons resultados colhidos até aqui, Brück mantém os pés no chão. “Nenhuma marca está totalmente imune aos efeitos desse cenário de retração”, afirma. “Mas vamos seguir trabalhando forte e estamos confiantes na recuperação do mercado, especialmente em 2018.”

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