Poucas profissões estão tão desmoralizadas quanto a dos políticos no Brasil. Há bastante razão para o descrédito. Afinal, dia sim – e outro também – notícias dão conta de que boa parte da classe política está envolvida em escândalos de corrupção. Para não me estender muito (não haveria espaço para tantos exemplos), basta dizer que aproximadamente um terço dos atuais ministros e dos parlamentares do Congresso Nacional foram citados na delação premiada de executivos da Odebrecht. Mais: a JBS disse que bancou 1.821 políticos com recursos ilegais nos últimos anos. Não sobra um, diria o incauto. Infelizmente, não estará muito longe da verdade.

Mas, acredite, não há solução fora da política e sem os políticos. Não adianta dizer que são todos corruptos. Não adianta protestar e não votar. Não adianta encher o peito e afirmar que não gosta de política. Esse desinteresse só ajuda os maus políticos. Essa apatia apenas os alimenta e lhes dá poder. Ao rejeitá-los, os fortalecemos. Ao ignorá-los, somos coniventes com seus atos. Pior: o desalento com políticos afasta os jovens da política. Muitas pessoas sonhadoras que gostariam de mudar a sociedade desistem por conta do sistema corrupto. Quantos homens públicos de bem optaram por seguir outras trajetórias?

Em 1919, o economista e sociólogo alemão Max Weber proferiu a conferência “A política como vocação” para estudantes da Universidade de Munique. Nela, ele apresentou uma definição do Estado que se tornou referência para o pensamento ocidental e analisou as qualidades para alguém ser um político por vocação. Segundo ele, são três: (1) a paixão movida por uma conduta responsável em torno de ideais e utopias; (2) o senso de responsabilidade; e o (3) senso de proporção, para distanciar-se dos problemas e analisá-los com gravidade e sobriedade. Onde estão os homens públicos que se encaixam nessa definição? No Congresso Nacional, há poucos que poderiam reivindicar tais atributos. A maioria se esconde debaixo do foro privilegiado e das negociatas feitas às sombras do interesse público.

Essa crise política que destrói a economia é uma chance única de revigorar a política e de renovar os quadros e as lideranças. Para isso, é preciso acreditar na política como uma força transformadora capaz de mudar a sociedade. Exercer a cidadania não se resume a depositar o voto na urna. É preciso fazer política todo dia, toda hora, todo minuto, a cada segundo. Na sua casa, no seu bairro, na escola, em qualquer lulgar. Só assim, começaremos a construir a consciência de que o espaço público é de todos. Hoje, o senso comum leva a crer que é de ninguém. Só assim deixaremos de ser analfabetos políticos, como definiu o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, que descreveu com precisão cirúrgica as consequências da alienação política. Repito seus versos: “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”