O presidente americano Donald Trump, disparado o mais populista e perigoso chefe de Estado da história dos Estados Unidos, mal assumiu a Casa Branca e já enfrenta uma encrenca com proporções semelhantes à repercussão das bobagens que fala e publica, diariamente, nos discursos e redes sociais. A estranha conexão de seu governo com a Rússia, de Vladimir Putin, ex-espião que tem assistido boquiaberto seus inimigos políticos morrerem misteriosamente, sinaliza que o bilionário falastrão de Washington não terminará seu primeiro mandato.

O potencial explosivo do romance entre os dois – comandantes das maiores potências militares do planeta – cria um ambiente de incertezas em escala global. Se o namoro não der certo, as consequências são imprevisíveis. Se alguém duvida, não está enxergando os fatos. Na terça-feira 14, em uma aparente contradição e diante do aumento das críticas em relação ao flerte entre americanos e russos, o porta-voz de Trump, Sean Spice, disse que os Estados Unidos querem que a Rússia devolva a região da Crimeia à Ucrânia.

O pedido, considerado absurdo por Moscou, seria o mesmo que exigir dos Estados Unidos a devolução do Alasca ao Império Russo, da Califórnia ao México e do Havaí aos polinésios. Internamente, a batata de Trump está assando muito antes do previsto. Prova disso é o início do desmantelamento de sua equipe, que sequer recebeu o holerite do mês. Primeiro foi a renúncia do general da reserva Michael Flynn, que deixou o cargo de secretário da Segurança Nacional, na última segunda-feira 13, depois da revelação de suas conversas com o embaixador russo em Washington, Serguei Kislyak.

Dois dias depois, o empresário Andrew Puder, um dos homens de confiança de Trump, também anunciou sua desistência ao cargo de secretário do Trabalho. Pessoas próximas a ele dizem que Puder quer evitar que os escândalos do presidente contaminem sua reputação. Mas isso ainda é pouco diante dos problemas que surgem no horizonte do magnata da Casa Branca. A postura agressiva e irresponsável de Trump começa a minar sua popularidade e apoio político. O professor emérito de estudos russos na Universidade de Princeton, Stephen Cohen, já prevê o colapso desse modelo de gestão, em que interesses escusos se sobrepõem às prioridades da nação mais rica do mundo.

Não se pode esquecer que Trump é um homem de negócios e que suas posições como presidente estão em sintonia com suas próprias ambições de empresário. Por muitas vezes, sem sucesso, Trump propôs construir uma Torre Trump em Moscou e até já tentou vender sua própria vodca naquele país. Antes mesmo de assumir a Casa Branca, Trump fez elogios públicos ao líder russo, o classificando como “um líder forte que sabe como dirigir seu país”. Putin retribuiu ao dizer que Trump é uma pessoa “brilhante e de talento”.

A ameaça gerada pela aproximação dos governos de Washington e Moscou já acendeu o sinal de alerta no Congresso e na Justiça dos Estados Unidos, com quem Trump tem criado atritos desde o cancelamento da decisão de proibir a entrada de cidadãos de alguns países muçulmanos, há duas semanas. Não bastasse isso, na última semana ele mudou de posição ao desistir de apoiar a criação de um Estado Palestino, considerado fundamental para a estabilidade do Oriente Médio. Tem se tornado um consenso que todas as polêmicas de Trump, como a construção do muro da fronteira com o México e a sobretaxa a produtos chineses, são pequenas diante dos problemas que se avizinham. Uma coisa é certa. Ou Trump muda ou não terminará seu mandato.