A queda dos preços do petróleo no mercado externo frustrou aquela que seria uma sessão de recuperação da Bovespa. Depois de uma queda de 2% na véspera, com a qual atingiu seu segundo menor nível no ano, o Índice Bovespa alternou sinais ao longo desta quarta-feira, 21, e terminou o pregão estável (-0,01%), aos 60.761,74 pontos. A cautela do investidor diante das indefinições do cenário político continuou presente e se refletiu principalmente no reduzido volume de negócios, que somou R$ 7,2 bilhões, ante R$ 8,4 bilhões da média diária de junho.

Novos temores sobre o excesso de oferta de petróleo derrubaram as cotações da commodity em mais de 2% nas bolsas de Nova York e Londres e tiveram impacto direto sobre ações do setor petrolífero pelo mundo. A brasileira Petrobras teve seus papéis ON e PN desvalorizados em 1,77% e 1,85%, respectivamente, com contribuição significativa no resultado final do Ibovespa.

Outros papéis também mostraram fraqueza, refletindo a desmotivação do investidor de renda variável. Foi o caso das ações do setor financeiro, que seguiram em sentidos diversos, mas com oscilações contidas. Banco do Brasil ON, um dos papéis que melhor refletem o risco político, recuou 0,54%.

O desempenho do Ibovespa só não foi pior devido à forte alta das ações da mineradora Vale, que recuperaram as perdas da véspera, apoiadas no ganho de 0,65% do minério de ferro no porto de Qingdao (China), a US$ 56,82 a tonelada seca. Vale ON e PNA subiram 2,96% e 3,49%. Os papéis puxaram outros da cadeia do aço, como Metalúrgica Gerdau PN (+3,24%) e CSN ON (+1,83%).

A maior alta do Ibovespa ficou com JBS ON, que avançou 5,32%, depois de ter caído 5,35% na terça-feira. A alta foi relacionada à expectativa de desinvestimento do grupo J&F, holding dos irmãos Batista, pivôs da atual crise política. No cenário jurídico, o grupo foi o principal destaque do dia, devido à sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que julga os limites de atuação do ministro relator na homologação de acordos de colaboração premiada e também se cabe ao ministro Edson Fachin a relatoria da delação de executivos do Grupo J&F.

Zero a zero no câmbio

À espera de novidades no cenário político, o dólar operou com volatilidade na maior parte do pregão, fechando em leve baixa. Além de ser pautado pela cautela dos investidores com o futuro das reformas Trabalhista e da Previdência, e nova queda acentuada dos preços do petróleo, a moeda americana teve dia de realização de lucros, após atingir ontem o maior nível de fechamento em um mês.

No mercado à vista, o dólar terminou em leve baixa de 0,02%, aos R$ 3,3314. O giro financeiro registrado somou US$ 1,055 bilhão. Na mínima ficou em R$ 3,3151 (-0,50%) e, na máxima, aos R$ 3,3377 (+0,17%).

No mercado futuro, o dólar para julho avançou 0,25%, aos R$ 3,3435. O volume financeiro movimentado somava cerca de US$ 13,54 bilhões. Durante o pregão, a divisa oscilou de R$ 3,3225 a R$ 3,3450.

O operador da corretora Hcommcor Cleber Alessie Machado Neto explica que o revés sofrido ontem pelo governo com a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) foi bem ruim porque levou a uma preocupação maior com a aprovação da reforma da Previdência, o que tem gerado cautela.

Após passar pela CAS, o projeto da reforma trabalhista seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a oposição conseguiu abrir espaço na tramitação para duas audiências públicas e a leitura dos votos em separado ao projeto, e com isso a votação deve atrasar. A data de votação na CCJ está mantida para o dia 28, mas a votação no plenário deve ocorrer com uma semana de atraso, entre os dias 3 e 7 de julho. Ainda assim, a valorização da moeda americana seguiu contida por dois motivos.

“Os investidores acreditam que as reprovações do projeto da reforma trabalhista nas Comissões não possuem tanto efeito, uma vez que o projeto tem grandes chances de passar no plenário. Além disso, a alta do dólar tem sido controlada porque o mercado tem enxergado que, se a moeda atingir R$ 3,35, o Banco Central irá atuar, como fez em meados de maio”, pontuou Machado Neto.

Para o operador de câmbio da corretora de Spinelli José Carlos Amado, o mercado ficou em um movimento pontual e cauteloso. “O giro continua fraco, com o investidor de olho em novidades no cenário político para avaliar o quanto isso pode atrapalhar as reformas”, destaca.

O câmbio foi influenciado também por mais uma desvalorização acentuada do petróleo, que reflete diretamente nas moedas de países ligados a commodity.