Os fundos de ações small caps, como são chamadas as empresas com pequeno valor de mercado, estão longe de ser os mais representativos da indústria. Seu patrimônio total, no fim de março, era pouco mais de R$ 1 bilhão, ante um total de R$ 3,34 trilhões investidos em fundos. Mas esses pequenos notáveis ganharam holofotes ao liderar a rentabilidade no primeiro bimestre deste ano. Em média, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de small caps acumularam valorização de 15,31% entre janeiro e fevereiro, acima dos 10,68% do Índice Bovespa no período.

Ganhos do consumo: queda de juros beneficia empresas ligadas ao setor de consumo, diz Ricardo Almeida, do Bradesco
Ganhos do consumo: queda de juros beneficia empresas ligadas ao setor de consumo, diz Ricardo Almeida, do Bradesco (Crédito:Egberto Nogueira/imafotogaleria)

O desempenho também superou a principal referência de investimentos, o CDI, que acumulou alta de 1,96% no período. “Boa parte dos investidores desses fundos quer participar do crescimento dessas empresas e ver seu patrimônio crescer junto com elas”, afirma Ricardo Almeida, diretor de investimentos da empresa de gestão de recursos do Bradesco, a Bram. Os gestores costumam classificar empresa como small cap quando seu valor de mercado vai de US$ 300 milhões a US$ 2 bilhões.

Não é incomum, porém, ampliar essa classificação para incluir companhias que valem até US$ 4 bilhões. Por trás dessa decisão está a busca por papéis mais líquidos, que reduzem os riscos de o gestor tentar se desfazer de sua posição e não encontrar compradores. No Brasil, entre as 400 ações listadas na BM&FBovespa, cerca de 70 são consideradas small caps. Na Bram, a preferência é por ações que movimentem por volta de R$ 3 milhões ao dia em pregões da Bolsa, e que tenham valor de mercado de até R$ 3 bilhões.

Subir a régua para US$ 4 bilhões foi a estratégia de Eduardo Cavalheiro, que fundou a gestora Rio Verde Investimentos, em 2003. Ele administra três fundos. O Rio Verde Small Caps, único aberto a investidores, é o mais rentável do ano, com um ganho acumulado de 18,02% até o dia 23 de março. A carteira é enxuta. Inclui até dez companhias, de quatro segmentos. Atualmente, ela é composta por ações de bancos, de infraestrutura e de consumo. Nomes como Banrisul, Alpargatas, Hering, Triunfo Participações, Pão de Açúcar, o Grupo São Martinho e a empresa de logística Rumo.

Gastando sola de sapato: Eduardo Cavalheiro, do Rio Verde, acompanha de perto as empresas em que seu fundo investe
Gastando sola de sapato: Eduardo Cavalheiro, do Rio Verde, acompanha de perto as empresas em que seu fundo investe (Crédito:Andre Lessa/Istoe)

As escolhas justificam-se porque Cavalheiro está otimista com a recuperação da economia brasileira. “Esses setores serão os primeiros a se beneficiar do reaquecimento da economia”, diz ele. Para aplicar, é preciso aportar R$ 25 mil. O fundo cobra uma taxa de administração de 2% ao ano, mais 20% sobre o que ultrapassar a alta do Ibovespa. Os três fundos da Bram combinam as projeções macroeconômicas com as dos setores das companhias em que investem. Os fundos abertos a investidores têm um patrimônio de R$ 150 milhões. Somando-se os fundos exclusivos, a cifra ultrapassa R$ 350 milhões.

“A gestão ativa tem se provado boa para nossos cotistas”, afirma Luís Guedes, superintendente de renda variável da Bram. Entre as ações estão CVC, Smiles, a incorporadora MRV, o laboratório Fleury e a companhia de saneamento Sanepar. “Com a queda da taxa de juros, essas companhias tendem a ter um desempenho melhor, porque sobra mais dinheiro no bolso do consumidor”, diz Almeida. O fundo Bradesco Prime Small Cap rendeu 11,82% até 23 de março (veja tabela ao final da reportagem). O aporte inicial é de R$ 1.000. A taxa de administração é de 3% ao ano, sem taxa de performance. A principal vantagem de um small cap em relação a um fundo de ações tradicional é a possibilidade de ganhos mais acentuados.

Quando suas estratégias são bem-sucedidas, as empresas menores tendem a crescer mais depressa, potencializando os lucros. Os gestores acompanham companhias que estão fora do radar do mercado, o que permite a eles encontrar pechinchas que mais ninguém viu. Imprevisíveis como qualquer fundo de ações, os small caps oferecem um risco adicional. Como as empresas em que investem têm poucos negócios, o gestor pode ter dificuldade para sair de uma posição problemática – um frigorífico, por exemplo. Assim, a recomendação é investir pensando em prazos mais longos, três anos pelo menos.

DIN1012-Capinha4Em contrapartida, os gestores conseguem ter informações mais precisas. “Com 14 anos atuando nessa indústria, eu aprendi a compilar dados para tomar a decisão de investimento”, diz Cavalheiro. Para garimpar dados, ele não economiza as solas dos sapatos. Um bom exemplo de seu processo de tomada de decisão foi seu investimento na Hering. No início de 2016, as ações recuaram 12,9%, devido a uma queda de 38% das vendas no primeiro trimestre. Isso fez o gestor sair para conversar. Não entrevistou apenas os executivos da companhia, mas falou também com franqueados e com clientes da varejista.

A intenção era entender como estavam as vendas e observar o movimento das lojas. O que o fez investir foi o fato de a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, ter ampliado sua fatia na Hering para 15,67% em julho do ano passado. “A Gávea participa da gestão das empresas em que investe, e isso é um bom sinal para a Hering”, diz. Na véspera de conceder entrevista à DINHEIRO, Cavalheiro havia se debruçado sobre o resultado da Triunfo Participações, empresa de infraestrutura que investe no aeroporto de Viracopos, em concessões de rodovias e portos, e na geração de energia. A Triunfo teve um prejuízo de R$ 194,1 milhões no quarto trimestre, o que causou as perdas de R$ 318,6 milhões no ano passado.

Some-se a isso o pesado endividamento da companhia, de cerca de R$ 3 bilhões, e o fato de o BNDES ter executado uma dívida em fevereiro. A saída está na venda de ativos. Avaliada em cerca de R$ 800 milhões, a Triunfo tem R$ 6 bilhões em ativos. A jornada mais extensa de trabalho se justifica: esse foi o único papel na carteira que não trouxe resultados no ano passado. “O problema é que eles diversificaram demais suas atividades até 2014, quando a economia desacelerou. Acredito que esse papel vai se valorizar assim que a questão da dívida for resolvida”, avalia Cavalheiro.

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