O executivo paulistano Paulo Cesar de Souza e Silva recebeu em julho do ano passado a mais complexa missão de sua vida profissional: comandar a fabricante de aviões Embraer, a terceira maior do mundo no setor, atrás apenas da americana Boeing e da europeia Airbus. Em seu segmento, o de jatos comerciais de médio porte, com capacidade para transportar até 116 passageiros, a companhia brasileira detém nada menos do que 58% do mercado global. A empresa também tem consolidado uma posição de destaque no setor de aviação militar, com o modelo KC-390. “A Embraer resistiu bem às oscilações do mercado mundial graças à força e qualidade de seus produtos e serviços”, afirma Souza e Silva. “Este ano, em especial, tem sido muito bom para a Embraer, puxada pela recuperação das economias na Europa e Estados Unidos.”

O desafio do executivo, aos 62 anos, não está apenas na condução da Embraer frente às turbulências internacionais. O sucessor de Frederico Curado assumiu a missão de pilotar a companhia na difícil transição tecnológica que o mundo atravessa hoje, transformando a gigante brasileira, cada vez mais, em uma empresa de tecnologia, não apenas em um a fabricante de aeronaves. Cada novo projeto, segundo ele, tem como pilar a inovação. “Comandar uma empresa em meio a essa revolução tecnológica é uma jornada sem fim”, afirma o executivo. “Mas estou muito satisfeito na forma como a Embraer está conseguindo defender sua posição.” Por isso, Paulo Cesar de Souza e Silva é o Empreendedor do Ano na Indústria.

Dizer que a Embraer caminha para ser um player global de tecnologia não é exagero nem força de expressão. Nos últimos anos, a empresa reverteu 10% de seu faturamento em investimentos em pesquisa e desenvolvimento – percentual vinte vezes superior à média da indústria nacional, de 0,5%. Em cifras, isso representa algo em torno de US$ 4 bilhões. Graças a esse intenso investimento, 50% da receita da Embraer, que atingiu R$ 21,4 bilhões em 2016, é proveniente dessas inovações. “A Embraer é um exemplo de empresa eficiente, produtiva e capaz de dar respostas rápidas globalmente”, diz o consultor José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil. Vale lembrar que a Embraer, fundada em 1969, foi uma inchada e deficitária empresa estatal até 1994.

No ano passado, a empresa virou outra página em sua história: admitiu ter pago propina para fechar contratos em quatro países e fez acordo de US$ 206 milhões no Brasil e nos Estados Unidos para encerrar investigações. A corrida tecnológica orquestrada por Souza e Silva é sustentada por parcerias com dezenas de universidades e centros de pesquisa em todo o mundo, que formam verdadeiras redes de conhecimento. As inovações relacionadas às aeronaves, no entanto, nascem principalmente em São José dos Campos, onde está concentrada a maior parte da força de engenharia da Embraer. A companhia mantém também laboratórios de inovação na Flórida, no Vale do Silício e, a partir deste ano, em Boston.

“O empenho de todos os engenheiros da Embraer criam, a cada dia, aviões muito mais inteligentes e eficientes em consumo de combustível”, garante o executivo. “Nossos modelos mais recentes, os da família E-2, consomem 16% menos, algo que faz toda a diferença em uma operação de uma companhia aérea.” O avião E195-E2, o maior já fabricado pela Embraer, com capacidade para até 146 assentos, realizou o primeiro voo em março, alguns dias depois da apresentação oficial da aeronave. Esse é o maior avião já fabricado pela Embraer, e coloca a empresa em um novo cenário competitivo, disputando mercados diretamente com os menores de Boeing e Airbus, no segmento denominado 150 assentos. O primeiro E195-E2 será entregue em 2018 à companhia norueguesa Widerøe.

A mais instigante inovação recente da Embraer, no entanto, não decola e pousa em pistas de aeroportos. Em abril deste ano, a Embraer e a Uber apresentaram, em parceria, o projeto de fabricação de um veículo elétrico autônomo para transporte aéreo urbano. O primeiro voo experimental será realizado em Dubai e em Dallas, em 2020. “Estamos muito animados com esse projeto e analisando a viabilidade de utilização em escala comercial. Acredito que a novidade será viável em 2024”, diz Souza e Silva. Se suas previsões estiverem certas, daqui a poucos anos a Embraer será uma realidade também nas ruas e céus do Brasil e do mundo.


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Ilan Goldfajn é o empreendedor do ano 2017

Frederico Trajano é o empreendedor do ano 2017 em e-commerce

Flavia Bittencourt é a empreendedora do ano 2017 no varejo

Guilherme Paulus é o empreendedor do ano 2017 em serviços

Celso Athayde é o empreendedor do ano 2017 em impacto social