A trajetória da Passaredo, única companhia aérea brasileira a apostar exclusivamente na aviação regional, apresenta um retrato fiel dos altos e baixos desse setor. No auge do crescimento das viagens, há pouco mais de oito anos, a empresa operava com uma moderna frota de jatos ERJ 145, da Embraer, e voava para quase todo o País. Ela chegou a contar com quase 20 aeronaves. Em 2012, os ventos começaram a mudar. A queda na demanda por voos e a alta do preço do petróleo, que batia na casa dos US$ 100 o barril, quase levaram a Passaredo à bancarrota.

Com dificuldades para honrar cerca de R$ 100 milhões em dívidas, a companhia entrou em recuperação judicial. Quatro anos depois, o cenário é mais animador. A Passaredo se prepara para sair dessa condição, o que deve ocorrer até o final do ano, e, com uma nova gestão, quer fazer decolar o mercado de voos para o interior. “A aviação regional ainda está engatinhando no Brasil”, afirma Adalberto Bogsan, que assumiu o comando da companhia em janeiro, substituindo José Felício Filho, que estava há 15 anos no cargo e seguirá como conselheiro. “Acredito nesse mercado.”

Ex-diretor de operações da Azul Linhas Aéreas, Bogsan tem um plano elaborado para aproveitar a demanda reprimida por transporte aéreo no interior do País. Ele envolve fazer parcerias com as grandes companhias e servir como “alimentador” de passageiros dos pequenos para os grandes centros econômicos. “Esse é o papel das empresas regionais nos Estados Unidos”, diz o executivo. A ideia é identificar hubs industriais ou comerciais e conectá-los às capitais, onde as empresas interioranas podem alavancar seus negócios. Hoje, a Passaredo opera em 18 destinos, sendo apenas seis capitais estaduais, além de Brasília.

“Um passageiro nosso pode embarcar em Rondonópolis (MT), por exemplo, e desembarcar em Nova York”, afirma Bogsan. Isso é possível graças às parcerias de code share mantidas com Latam e Gol. Com o mesmo número de bilhete, o viajante utiliza duas empresas. O agronegócio aparece como o grande mercado para a Passaredo. Sua sede, por sinal, fica em Ribeirão Preto, cidade paulista que se autointitula a “capital brasileira do agronegócio”. Mas Bogsan diz que não é só isso.

Força local: para Adalberto Bogsan, presidente da Passaredo, a aviação regional está engatinhando no Brasil
FORÇA LOCAL: para Adalberto Bogsan, presidente da Passaredo, a aviação regional está engatinhando no Brasil (Crédito:Divulgação)

“Estamos olhando para centros tecnológicos e industriais. Até o final do ano, vamos adicionar dois destinos”, diz o executivo, sem revelar quais. Um estudo feito pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) mostra que a estratégia tem fundamento. Ele aponta que a contribuição da aviação para a economia do País, em 2015, foi de R$ 312 bilhões, o equivalente a 3,1% do PIB. Isso mostra que a aviação tem o potencial de elevar a produção econômica. “Somos parte de um sistema de criação e distribuição de valor”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.

Para que a aviação regional se fortaleça, no entanto, é preciso que os Estados aprimorem suas condições econômicas, o que leva tempo. Uma alternativa mais rápida é apostar em polos de desenvolvimento, diz a Abear. Se tudo der certo, Bogsan espera que a Passaredo passe a operar no azul já no meio deste ano. A receita da companhia, em 2016, foi de R$ 300 milhões. Sua dívida líquida total é de R$ 400 milhões, sendo administrável, segundo o executivo. Hoje, ela opera com uma frota de oito aeronaves turboélice modelo ATR 72, de fabricação francesa. A expectativa é adicionar mais dois aviões, em 2017.

No ano passado, o número de passageiros pagos transportados pela empresa caiu 22,47%, para cerca de 930 mil, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil. O governo pode atrapalhar essa recuperação. A ex-presidente Dilma Rousseff anunciou, no final de 2012, um plano para reformar 270 aeroportos, com investimentos de R$ 7 bilhões. Havia, ainda, a ideia de conceder subsídios para os voos regionais. Com a chegada de Michel Temer ao poder, o projeto foi adiado e deverá ser reduzido.

Agora, o objetivo é reformar 170 aeroportos e os subsídios saíram de pauta – o novo investimento não foi divulgado. O plano anterior era considerado exagerado. A demanda por viagens domésticas caiu 5,47% e as companhias aéreas deixaram de atender nove cidades, em 2016. Mesmo assim, Bogsan se mantém otimista. “Não queremos competir com as grandes. A Passaredo sempre será uma empresa regional”, diz o executivo. “Pelo tamanho do Brasil, temos espaço para crescer.”

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