O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta terça-feira, 29, após conceder entrevista à rádio CBN, no Rio, que uma possível solução a ser apresentada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para solucionar restrições à venda da Liquigás para a Ultragaz, “é uma questão que está sendo discutida especialmente com os compradores”.

A superintendência-geral do Cade propôs a rejeição da venda, que faz parte do plano de desinvestimento da estatal. O tema ainda será julgado pelo Tribunal do conselho, ao qual caberá a palavra final. Aprovado em novembro do ano passado pelo conselho de administração da Petrobras, o negócio é estimado em R$ 2,8 bilhões.

Para conseguir aprovar a venda, é possível que as duas empresas apresentem alternativas ao Cade e, assim, comprovem que o negócio não vai gerar concentração de mercado. Parente não quis comentar, no entanto, quais são as soluções avaliadas.

Desafio

O presidente da Petrobras disse na entrevista à rádio CBN que “é difícil encontrar instituições ou desafios com o porte ou magnitude do setor público”. Ao ser questionado, no entanto, se a Petrobras é um desafio maior do que foi a gestão do apagão, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Parente afirmou que “a crise de energia foi mais ampla”.

“Por outro lado, a Petrobras tem questões que são prementes. Encontramos a empresa com elevadíssimo endividamento. Trabalhamos com empresa que estava muito machucada pelos eventos que nos antecederam, como os casos de corrupção. Para sair do alto endividamento, implementamos planejamento estratégico”, afirmou.

Ele destacou que, pela primeira vez, a empresa estabeleceu duas métricas que serão levadas em consideração no seu plano estratégico. “Pela primeira vez, colocamos a segurança no mesmo patamar financeiro. Um problema de segurança pode ser sério para o ambiente e para a vida das pessoas”, afirmou.

Parente afirmou não ter colocado em pauta o tema da privatização. “Dado o orgulho do brasileiro pela Petrobras, não é desejo da sociedade privatizar a Petrobras”, afirmou o executivo durante a entrevista à rádio CBN. “Temos problemas urgentes a resolver”, complementou Parente, argumentando que uma discussão sobre privatização apenas prejudicaria o trabalho da diretoria, como para a retração do endividamento.

Durante a entrevista, ele ainda informou que o Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) foi concluído e que 17 mil funcionários aderiram ao plano.

Ele voltou a afirmar ainda que a venda da participação na petroquímica Braskem depende de mudanças no acordo de acionistas e que, enquanto isso não ocorrer, não deixará a empresa, uma parceria com a Odebrecht.

Rating

Segundo Parente afirmou, as agências de classificação de risco não concedem grau de investimento à companhia, “mas os investidores sim”, ao cobrarem juros menores do que os cobrados quando a estatal possuía o status dado pelas empresas de rating.

Para retomar o grau de investimento, segundo Parente, a companhia deverá “combinar com os russos”. O maior deles, em sua opinião, seria o governo federal, já que a nota da empresa costuma seguir a da União.

Parente disse ainda que, no encerramento do seu mandato atual, em abril de 2019, pretende entregar uma estatal “com regras de governança implementadas, endividamento mais saudável e com reputação recuperada”.

João Elek

Parente disse não acreditar que o diretor João Elek de Governança e Conformidade da empresa, afastado do cargo, teve a intenção de contrariar as regras de governança da companhia. Elek foi denunciado por conta da admissão da sua filha pela Deloitte, após a consultoria ser contratada sem licitação para prestar o serviço de investigação das denúncias do “Canal Denúncia” da Petrobras.

O presidente da Petrobrás argumentou que o processo de admissão foi iniciado antes da contratação de Elek para o cargo. “Vejo a questão humana e a contribuição do diretor ao longo do período. Não acredito que ele teve a intenção de contrariar as regras. No entanto, há crimes dolosos. Ações dolosas, porque não foi um crime, foi uma questão ética e não penal”, afirmou.

O recurso de Elek será julgado pela comissão de ética da companhia. Parente acrescentou que não teve qualquer poder de decisão de afastamento do executivo do cargo.