Em retrospecto, o comportamento dos investimentos ao longo dos 20 anos de existência de DINHEIRO parece ter sido estável. A inflação manteve-se, em média, em 6,33% ao ano. As ações, representadas pelo Índice Bovespa, superaram consistentemente a inflação, rendendo 9,6% ao ano em média. E o dólar ficou abaixo da inflação, e perdeu de longe para os juros, mostrando que os investidores não buscaram proteção na moeda americana.

1997: Desde sua segunda edição, DINHEIRO acompanhava as crises internacionais, e suas repercussões sobre a economia brasileira

Ledo engano. É inegável que as duas últimas décadas foram bem mais estáveis que os anos imediatamente anteriores. Entre 1986, época do Plano Cruzado, e 1994, início do Plano Real, a economia brasileira conviveu com cinco moedas, sete planos econômicos e uma sucessão acelerada de ministros da Fazenda, que adotaram medidas mais ou menos desesperadas para conter uma inflação que parecia indomável. No entanto, ao longo de 20 anos, as páginas da DINHEIRO retrataram um cenário de solavancos para os investidores.

O desfile de sustos começou pela crise da Ásia, retratada na capa da segunda edição da revista. Passou pela desvalorização do real, no início de 1999. Pelo susto com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. E pela maior de todas as encrencas, a crise do mercado imobiliário americano, em 2008, simbolizada pela quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro daquele ano, todos assuntos cobertos extensivamente por DINHEIRO. “A crise do subprime revelou as fragilidades do sistema financeiro internacional”, diz Olivier Blanchard, que foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante todo o período da crise. Segundo Blanchard, a concessão de empréstimos em excesso com base em ativos imobiliários sobreavaliados levou à crise, algo que derrubou os mercados ao redor do mundo – e o Brasil não foi exceção.

Essas crises levaram a altas periódicas na cotação do dólar. Em 2002, quando o mercado temia as consequências da eleição de Lula, a moeda americana chegou a superar R$ 4,00, quase o dobro do patamar de um ano antes. Essa alta súbita provocou fortes pressões inflacionárias, e levou o Banco Central (BC) a elevar os juros a até 27% ao ano durante os piores momentos da crise. Mesmo elevadíssimas, essas taxas estão longe do máximo. Quando da desvalorização do câmbio, no início de 1999, o então presidente do BC, Armínio Fraga, elevou a taxa Selic para 49,5% ao ano em uma tentativa de conter a fuga de reservas e impedir uma explosão da inflação.

Essa necessidade de estabilizar o mercado por meio dos juros fez com que, ao longos dos últimos 20 anos, as aplicações na renda fixa fossem as mais rentáveis para o investidor. Apesar de algumas ações, como Alpargatas, por exemplo, terem acumulado valorizações de 27.268% nesse período, e de papéis importantes como AmBev terem subido mais de 7.736%, na média, a renda variável perdeu bastante da renda fixa. “No longo prazo, o investidor brasileiro foi premiado por não correr riscos”, diz William Eid Júnior, doutor em finanças pela Fundação Getulio Vargas. “Guardadas as devidas e honrosas exceções, as ações não foram um negócio tão bom quanto os juros.”

É arriscado prever o futuro. No entanto, no momento em que DINHEIRO inicia sua terceira década, há fortes indícios de que a economia brasileira poderá atravessar um período dos juros estruturalmente mais baixos desde o início do Plano Real, o que poderá melhorar a situação para as ações. Além dos juros mais baixos, outro fator ajuda nessa perspectiva: há dinheiro sobrando no mercado internacional, e algumas gotas desse oceano de dinheiro poderão ser aspergidas sobre o pregão brasileiro. Isso convenceu até os mais céticos. Em sua mais recente carta aos investidores, a gestora Verde, de Luis Stuhlberger, informa os cotistas de seus fundos que zerou suas posições vendidas em ações. “A liquidez global dá ao Brasil passe livre para não fazer reformas”, informa o relatório. Ou seja, mesmo Stuhlberger, tradicionalmente adverso a fazer grandes apostas em bolsa, avalia que há possibilidades de ganho nas ações.


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