Uma garrafa de champanhe era aberta todas as vezes que a equipe de desenvolvimento da empresa brasileira de serviços de tecnologia CI&T entregava um projeto. A rolha, com a identificação do cliente atendido, era acomodada com carinho em um grande recipiente repleto de outras rolhas. Esse ritual de celebração, no entanto, está praticamente extinto. “Ficou mais difícil juntar as rolhas”, diz Cesar Gon, CEO e um dos cofundadores da companhia, ao lado de Bruno Guiçardi e Fernando Matt.

Há um motivo para não ocorrer mais a celebracão. A CI&T , com sede em Campinas, no interior de São Paulo, cresceu demais. Há dez anos, os ganhos somavam apenas um décimo do faturamento de R$ 406 milhões no ano passado. O número de funcionários multiplicou-se por cinco, passando de 500 para os 2.500 atuais, espalhados por cinco continentes. Por isso, não há uma rolha com o nome da Comrade, agência americana de soluções digitais que foi comprada, por valor não revelado, pela CI&T na segunda-feira 7, na primeira aquisição internacional da história da companhia.

Apesar de ser relativamente pequena, com apenas 50 funcionários, a Comrade representa um passo importante em direção ao sonho americano. Situada no Vale do Silício, a agência aproxima a CI&T das grandes empresas que possuem suas sedes na Meca do setor de tecnologia. “Sair do Brasil é um caminho tentador”, diz Sergio Penedo, coordenador geral de graduação do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada. “Os avanços tecnológicos lá são maiores e possibilitam novos negócios.” Guiçardi sabe disso.

“O mercado americano é, de longe, o maior do mundo”, diz o empreendedor que agora é presidente para a América do Norte. “As tendências vencedoras nos EUA serão vitoriosas no resto do mundo”. Outra vantagem da transação foram os clientes que agora fazem parte do catálogo da CI&T. A empresa campineira passa a atender dois dos cinco maiores bancos dos Estados Unidos: o Bank of the West e o JPMorgan Chase. “Esperamos que essa parceria possa nos ajudar a garantir um serviço mais abrangente”, diz Thelton McMillian, fundador da Comrade.

Relax no trabalho: seguindo a moda das grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício e de startups do setor, a CI&T investe em ambientes descontraídos para seus funcionários (Crédito:Marco Ankosqui)

Mais do que chegar ao Vale do Silício, a expansão internacional se tornou um objetivo de longo prazo da CI&T, que desenvolve software para terceiros, faz manutenção de redes e ajuda na digitalização das empresas. Em 2005, o BNDESPar comprou uma fatia da empresa. Hoje, ele detém 31% da companhia. O dinheiro foi fundamental para a empresa brasileira começar a atuar fora do Brasil, quando abriu seu escritório na Filadélfia, nos EUA, em 2006. Atualmente, as operações estão distribuídas por diversas cidades americanas, além de ter presença na China, no Japão, no Reino Unido e na Austrália.

Hoje, 40% das receitas da CI&T já são de fora do País. “Nosso plano é crescer mais rápido no exterior do que no Brasil”, diz o CEO Gon. “Isso, no entanto, ainda não acontece.” Gon não detalha os planos e não confirma se comprará novas empresas no exterior. A expansão internacional, no entanto, será vital para que a companhia atinja a meta de faturar R$ 1 bilhão até 2020. Para alcançar esse objetivo, a CI&T terá de dobrar de tamanho a cada três anos, resultado que tem conseguido obter, segundo Gon. No ano passado, as receitas cresceram 18%. Pode ajudar o fato de a CI&T atuar em serviços de tecnologia, que crescem a taxas superiores ao mercado.

Em 2017, a expansão global deve ser de 2,3%, segundo estimativas da consultoria Gartner, quando atingirá US$ 917 bilhões. Esse índice é 0,9 ponto percentual a mais do que o setor que irá se expandir. A CI&T, apesar de ter mais de 20 anos de vida, construiu um ambiente parecido com o de startups. Nada de mesas individuais ou salas gigantescas para diretores. Com paredes coloridas, o novo prédio da companhia, inaugurado em novembro do ano passado, parece um gigantesco espaço de coworking. Os funcionários trabalham em grandes bancadas sem qualquer divisória.

Ao lado da escada, um escorregador. Um espaço para o desenvolvimento de projetos próprios fica a disposição de qualquer um que queira tirar uma ideia do papel. Salas de descanso com cadeiras de massagem, videogame, mesa de sinuca e até uma adega de vinhos servem para aliviar o estresse dos colaboradores. Tudo para seguir o roteiro e alcançar seu primeiro bilhão de reais. Se conseguir, haverá motivos de sobra para brindar, mesmo que não tenha mais onde guardar as rolhas.