A oposição venezuelana nomeará nesta sexta-feira (21) no Parlamento, onde é maioria, uma Suprema Corte paralela em sua ofensiva para forçar o presidente Nicolás Maduro a suspender a eleição de uma Assembleia Constituinte.

“Vamos manter a pressão. Nomearemos os juízes e, no sábado (22), retornaremos às ruas. A próxima semana será crucial para a mudança na Venezuela e para revertermos essa falsa Constituinte”, declarou o deputado opositor Freddy Guevara.

Os parlamentares da oposição farão uma sessão parlamentar pública em uma praça no leste de Caracas, onde irão nomear 33 magistrados para integrar essa Suprema Corte paralela.

Na quinta-feira (20), o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) declarou nulo esse processo, por considerar que o Congresso continua em “desacato” desde que a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) assumiu em janeiro de 2016.

“Qualquer um que assumir indevidamente funções públicas – civis, ou militares -, será culpado do crime de usurpação”, declarou o TSJ.

O poderoso líder chavista Diosdado Cabello, candidato à Assembleia Constituinte, ameaçou prender os “usurpadores” após a eleição da Constituinte.

“A ditadura nos acusa de montar um ‘Estado paralelo’. Quem usurpou as funções do Parlamento? Nós somos o Estado constitucional”, disse Guevara.

A nomeação será feita depois do encerramento da greve geral de 24 horas e da morte de cinco pessoas na violência registrada durante a paralisação. Esses novos óbitos elevam para 103 o número de mortos em quase quatro meses de protestos.

As mortes foram registradas nas cidades de Valencia e Los Teques (norte) e no estado de Zulia (noroeste).

Confrontos entre as forças de segurança e manifestantes foram relatados durante a paralisação em Caracas e em outras cidades, com um saldo de 261 detidos, especialmente na capital e nos estados de Zulia, Nueva Esparta e Carabobo, de acordo com a ONG Foro Penal.

Até a madrugada desta sexta-feira, pequenos grupos de manifestantes bloqueavam algumas ruas com barricadas.

A oposição estima que 85% dos trabalhadores aderiram à greve geral, com o comércio fechado e a circulação dos transportes públicos parcialmente afetada. De acordo com Maduro, a paralisação foi um fracasso, porque setores-chave da economia, como a indústria do petróleo, operaram a 100%.

A oposição segue animada pelos 7,6 milhões de votos obtidos no plebiscito simbólico organizado no último domingo (16) contra a Assembleia Constituinte, cujos 545 membros serão eleitos em 30 de julho.

Os opositores devem boicotar a Constituinte, argumentando que não foi convocada por meio de referendo e que seu sistema eleitoral é “fraudulento”.

Nesse contexto doméstico de crise, Maduro enfrenta uma forte pressão internacional. Governos da América Latina, a União Europeia e o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pediram que o presidente retire o projeto de Constituinte.

A cúpula do Mercosul, bloco integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, pretende exigir nesta sexta-feira que Maduro desista do projeto.

Em meio às tensões, o diplomata venezuelano nas Nações Unidas, Isaías Medina, renunciou ao posto, ao denunciar as violações dos direitos humanos em seu país.