A estrutura, no terreno de cerca de 80 mil m², já devia estar pronta, mas só se veem sinais de abandono em um canteiro de obras esvaziado, com maquinário sem uso e matagal crescente em volta do esqueleto do prédio que deveria abrigar alunos de um novo Centro Educacional Unificado (CEU) entre o Carrão e o Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

O clima entre os moradores do bairro é de cobrança para que, pelo menos, a parte do terreno onde fica um campo de futebol e uma pista de corrida seja reaberta, diante da aparente falta de previsão para a retomada e a conclusão das obras. O terreno, atrás da Estação Carrão da Linha 3-Vermelha do Metrô, abrigava antes do início das obras o Parque Municipal Tatuapé e o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes.

A Prefeitura fechou o acesso para as pessoas desde o fim do ano passado, em razão das demolições de estruturas previstas na remodelação do espaço. Os vizinhos, então, ficaram sem o parque e ainda aguardam o avanço das obras do CEU. De cima do prédio da bióloga Marina Cardamone, de 54 anos, é possível ver a extensa área equivalente a oito campos de futebol de medidas oficiais onde a obra transcorria.

No local, havia dois campos, duas quadras e duas piscinas, além de salas para outros exercícios físicos. A piscina está vazia e o toboágua, desgastado. “O projeto era maravilhoso, mas ainda está no papel, enquanto nós fomos obrigados a deixar de usar toda essa estrutura e buscar outro local. Está demorando demais”, reclama Marina, que praticava ioga no clube.

O zelador Ediclei Alves Brito, de 38 anos, corria diariamente na área que se tornou um canteiro de obras. “Agora, todos que querem fazer algum tipo de atividade têm de ir ao Ceret (centro esportivo municipal, a 4 quilômetros). E nem todos podem, pois havia muitos idosos que participavam das atividades aqui”, afirma.

Governo. A obra do CEU consta na relação de serviços suspensos pela gestão João Doria (PSDB) neste ano por falta de receitas. A obra foi herdada da administração anterior com 27% de conclusão.

Para Caio Megale, secretário municipal da Fazenda, o projeto foi mal planejado. “Ele é localizada em região onde não há demanda.” O custo alto do serviço diante de outras prioridades, diz ele, foi o que pesou. “O que faço?”, indaga Megale. “Gasto o valor de 10 creches ali, em um lugar que não precisa?”

Já a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) disse que o Município havia assinado convênio com o Ministério da Educação, que previa liberação de R$ 150 milhões para obras de CEUs. O plano de metas da administração anterior, segundo a equipe petista, previa um CEU por distrito e a região ainda não tem unidade do tipo.

A capital tem hoje 46 CEUs – – que juntam unidades de ensino com piscinas, ginásios e teatros. A maioria está em bairros periféricos.