Na última década, o mundo se acostumou a voltar os seus olhos para o Moscone Center, em São Francisco, onde eram apresentados os novos telefones da Apple. Os anos se passaram e o frenesi causado pelos iPhones foi diminuindo cada vez mais. Neste ano, quando o aclamado dispositivo comemora o seu décimo aniversário, a fabricante tem uma missão árdua. A empresa precisa recuperar o prestígio do celular inovador que mudou o mundo da tecnologia e que representa dois terços de sua receita de US$ 215 bilhões. A oportunidade para isso vai surgir na próxima terça-feira, 12 de setembro, quando a companhia vai apresentar ao mundo os seus novos smartphones que vão determinar se a Apple quer inovar ou se quer apenas vender telefones.

Dessa vez, o iPhone corre o sério risco de ficar em segundo plano. Os novos aparelhos vão ser lançados no Apple Park, em Cupertino, a nova sede da Apple, inaugurada em abril. Pela primeira vez, a imprensa vai ter acesso à nave espacial projetada por Steve Jobs, morto em 2011, e que consumiu US$ 5 bilhões de investimentos. As honras de mostrar o novo iPhone cabem a Tim Cook, o CEO da companhia da maçã. O sucessor de Jobs deve anunciar duas versões da categoria S do iPhone 7, com melhorias técnicas. Mas é aguardado pelo fãs um novo smartphone, que pode ser chamado de iPhone 8, iPhone X ou, ainda, iPhone Pro, segundo notícias de sites especializados na cobertura da Apple.

Disco voador: o Apple Park, em Cupertino, custou US$ 5 bilhões para a Apple e vai ser o palco da apresentação do novo iPhone (Crédito:Divulgação)

Além de melhorias em termos de hardware, como mais memória RAM e um novo processador, as principais mudanças do iPhone devem residir no design do aparelho. É possível que o celular abandone o característico botão Home, presente desde o primeiro modelo e que serve para ligar e desligar a tela. No lugar dele estará uma barra de ferramentas digital. Existe grande expectativa também para que a companhia passe a utilizar a chamada tela infinita, o que reduziria bordas laterais do aparelho. Espera-se ainda a presença de um sistema de reconhecimento facial, que poderá ser usado para destravar o celular e também para realizar ações em aplicativos da Apple. O preço é outro mistério a ser revelado. Nas bolsas de apostas, seu preço estimado é na casa dos US$ 1.000.

As especulações sobre o novo iPhone, se estiverem certas, indicam que pouca coisa – ou quase nada – de novo chegará ao aparelho. Boa parte dessas novidades já estão nos smartphone dos rivais da Apple. “Já faz um tempo que a Apple está parada no tempo”, diz Ivair Rodrigues, diretor da consultoria IT Data. A Samsung, por exemplo, já inseriu algumas novidades que a Apple deve mostrar no novo iPhone em seus dispositivos. O Galaxy S8, lançado no início deste ano, conta com tela infinita e permite o seu desbloqueio por meio de um leitor de irís. Para completar, a fabricante coreana lançou a Bixby, sua assistente virtual inteligente capaz de interagir com precisão com aplicativos como Facebook, Instagram e WhatsApp, além de utilizar a câmera do celular para fazer buscas, traduções e realizar outras tarefas a partir das imagens visualizadas.

Caminho difícil: Tim Cook vai tentar colocar iPhone de volta na estrada da inovação, algo que não conseguiu até agora (Crédito:AP Photo/Marcio Jose Sanchez)

A chinesa Huawei, terceira maior fabricante de celulares do mundo, apresentou o chip Kirin 970, durante a IFA, evento de tecnologia realizado em Berlim, na Alemanha, no início de setembro. O processador chega ao mercado para competir com o consagrado Snapdragon, da Qualcomm. O grande diferencial é que o chipset foi totalmente desenvolvido para trabalhar com inteligência artificial, tornando-o mais ágil para responder a comandos dados por assistentes de voz. “Quando olhamos para o futuro dos smartphones, vemos que estamos no começo de uma nova e excitante era”, disse Richard Yu, CEO da companhia durante a apresentação do produto. O dispositivo poderá ser testado no Mate 9, novo celular da empresa que possui compatibilidade com assistente virtual Alexa, da Amazon. A falta de inovações está fazendo com que a Apple perca território. No primeiro semestre do ano passado, a empresa tinha 14,8% do mercado. Um ano depois, a fatia caiu para 13,7%. A Samsung lidera com 20,7%.

“A indústria da tecnologia está evoluindo e todas as principais fabricantes estão se preparando para grandes mudanças na maneira que usamos os telefones”, disse Tuong Nguyen, analista da empresa de pesquisa americana Gartner. “A Apple precisa provar ao mundo que não perdeu a característica de inovadora.” Mesmo sem grandes novidades, a Apple segue colocando mais dinheiro em seus cofres. A receita do terceiro trimestre fiscal da empresa, finalizado em 1º de julho, fechou em US$ 45,4 bilhões, o que gerou lucro líquido de US$ 8,7 bilhões. Se nos números a Apple segue como um dos colossos do mercado, no dia 12 de setembro a companhia de Cupertino terá a oportunidade de mostrar às suas concorrentes que o iPhone não é apenas mais um celular queridinho do povo. Para isso, vai precisar recuperar sua alma inovadora.