Há pouco tempo fui procurado por um CEO de uma grande companhia disposto a iniciar seu programa de Ação Afirmativa, mas com muitas dúvidas de como abordar o assunto. Havia questões das mais complexas, como tratar do assunto dentro da empresa, até coisas mais simples, como qual palavreado usar ao se direcionar aos seus funcionários.

As perguntas eram as mais diversas: “Eu os chamo de negros, pretos, afrodescendentes ou pardos? Como me expressar para não reproduzir preconceitos? Como não parecer paternalista e nem segregador? Como lidar com o restante dos não-negros dentro da empresa para que não pareça que estou protegendo os negros?”

A primeira coisa que lhe disse é que ele já estava no caminho certo, pois enfrentar o problema da diversidade no ambiente corporativo deve ser precedido de três preocupações fundamentais:

1-Não achar ou induzir seus subordinados a acreditam que Ação Afirmativa tem a ver com filantropia, paternalismo ou terapia para resolver problemas de culpa. Ação afirmativa faz bem para os negócios e para a lucratividade da empresa.

2- A preocupação com os não-negros dentro da empresa é crucial para que o programa de Ação Afirmativa tenha sucesso. Para ganhar os não-negros o dirigente precisa apelar para todos os recursos e informações disponíveis sobre diversidade, tal como dados históricos, percentuais atualizados acerca das diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos no Brasil e, principalmente, as cartas-princípios de todas as empresas, que em sua maioria dão conta de algum princípio que é sinônimo de igualdade, respeito e justiça traduzido em igualdade racial;

3- Com relação ao palavreado, deve ser discutido com muita franqueza e tranquilidade com o próprio grupo dentro da empresa. Em um país diverso como o nosso, com várias formas de sutilezas de preconceitos e um idioma tão rico e complexo como o português, uma palavra dependendo do tom e da forma que for entonada pode ter diversos sentidos. Um exemplo é a palavra “negro”, que em um tom amigável e respeitável tem uma conotação, mas ao elevar o tom e expressar de forma jocosa ou em tom depreciativo será caracterizado como ofensa.

Sempre digo que gosto de ser tratado como trato as pessoas, e não costumo chamar ninguém de branco, chamo sempre pelo nome. Mas se for preciso elencar a característica e se for branca, não terei problemas em chamá-la assim. Durante muito tempo usei o termo afrodescendente para todos os tons e características de pessoas com traços de negros, mas parei de fazer isso quando muitos brancos no Brasil passaram para usar de má fé e adentrarem no sistema de cotas raciais (principalmente em universidades e serviço público), usando um atalho da legislação ao se autodeclararem afrodescendentes. E não estão errados, pois todos descendemos da africana Luci, o mais antigo fóssil encontrado na África.

Assim, todos brancos e negros somos afrodescendentes. Considero, por fim, que o mundo privado deve estar mais atento e preocupado para que esse tipo de fraude não aconteça, pois quando adentramos nos espaços de poder do mundo corporativo o que notamos é a real ausência negra nesses espaços.