Desde janeiro de 2015, a rotina do executivo sul-africano David Powels, CEO da Volkswagen do Brasil e América Latina, se resume em reestruturar a operação da montadora alemã no País. Ele assumiu o comando da subsidiária em um momento crítico da crise que abateu o setor automobilístico. O cenário, segundo ele, começa a melhorar. Em entrevista à DINHEIRO, Powels conta como está conseguindo tirar a empresa do olho do furacão. Acompanhe:

A indústria automobilística, pelos números da Anfavea e da Fenabrave, começou a reagir no primeiro semestre. Essa recuperação reflete também o desempenho da Volkswagen?
As expectativas para o mercado, como um todo, estão melhores. Olhando para os resultados de maio e junho, a expectativa, para o ano de 2017, cresceu de um a dois pontos percentuais, em relação a expectativa que tínhamos no início deste ano. Esperamos que a evolução nas vendas, em 2017, seja de 4% a 5% em relação a 2016. Já para 2018, esperamos um crescimento de 5% a 8% na comparação com 2017.

O sr. atribui esse crescimento a quê?
Temos verificado que o mercado, aos poucos, tem mostrado sinais de recuperação, que refletem em uma maior atividade industrial. Algumas empresas já demonstram maior confiança na recuperação econômica e têm contribuído com o aumento nas vendas do segmento de vendas corporativas, por exemplo.

Pode-se esperar que não haverá um novo ciclo de queda no curto prazo?
É o que acreditamos. Durante o ano de 2017, em relação a 2016, vamos reduzir a nossa ociosidade. Ainda não é possível saber o percentual de forma precisa.

A Volkswagen foi uma das montadoras que mais perdeu participação de mercado na crise. Como a empresa vai virar o jogo e recuperar o market share?
Há um plano amplo para a construção de uma nova Volkswagen do Brasil. Os seus resultados começarão a ser percebidos daqui a 12 meses, e se desdobrarão ao longo dos próximos três a cinco anos. Estamos trabalhando em várias frentes para construir esta empresa. Estamos aprimorando o relacionamento com a nossa rede de concessionários em todos os países da América do Sul para os quais temos trabalhado fortemente a ampliação de nossas exportações. Além disso, estamos com fábricas mais enxutas, dando mais foco no cliente, com produtos e design relevantes para os mercados da região América do Sul. Temos muitas ações e planos estratégicos para o reposicionamento da marca Volkswagen aqui no Brasil, tornando-a mais próxima dos clientes e do mercado.

O Gol atingiu a marca de 8 milhões de unidades produzidas desde o seu lançamento, mas já não figura no ranking dos modelos mais vendidos do País. Qual será o próximo Gol da Volkswagen?
Estamos focados agora na preparação da maior ofensiva de produtos Volkswagen na história desse País. O primeiro modelo totalmente novo será o Polo, ainda em 2017. Na sequência, o sedã Virtus, no primeiro semestre de 2018. E temos muitas outras novidades que chegarão para preencher segmentos nos quais ainda não estamos. Todos eles com o que há de melhor em tecnologia e que certamente deixará claro a virada de página da Volkswagen.

O governo admite que poderá elevar os impostos para conseguir cumprir a meta fiscal deste ano. Qual a sua avaliação sobre isso e como um eventual aumento de imposto afetará a Volkswagen?
Precisamos ter acesso a detalhes sobre as possíveis medidas para avaliar quais seriam os impactos no mercado e no setor. De qualquer forma, é importante ressaltar que o setor automotivo já conta com uma alta carga tributária e que o aumento de impostos poderia impactar no preço final ao cliente e, consequentemente, nas vendas.

E se a alta dos impostos não atingir a produção de veículos, mas a Cide e PIS/Cofins dos combustíveis? Isso também pode prejudicar as vendas, indiretamente?
Sem o detalhamento do que ocorrerá de fato não é possível fazer uma avaliação aprofundada, mas qualquer aumento de impostos afeta negativamente a economia.

A Volkswagen turbinou suas exportações para compensar parte da retração das vendas internas. Como o dólar na casa de R$ 3,30, os mercados externos continuam atraentes?
As exportações são uma estratégia de longo prazo, e não de curto. Mais do que uma venda a outro mercado, a exportação é um relacionamento. São feitos investimentos para reforçar a presença de determinado modelo em um novo mercado. Não podem ficar ao sabor da taxa cambial. Desde outubro de 2016, a marca Volkswagen trabalha a região SAM, que congrega 29 países da América do Sul, Central e Caribe. Como presidente e CEO dessa região, além do Brasil, minha tarefa é de ampliar nossa atuação nesses mercados e aumentar a nossa participação. Desses 29 países, 27 são mercados importadores, os quais não temos fábricas.

Como a Volkswagen está posicionada nesses mercados?
Neles, tirando Brasil e Argentina, nosso market share foi de apenas 2,2% entre janeiro e junho de 2016, mas, nos primeiros seis meses de 2017, já saltamos para 3,1%. Há um potencial enorme a ser explorado nesses países. O modelo da Volkswagen mais vendido nesses mercados é o Gol, seguido pelo Voyage e pela Saveiro, produzidos no Brasil. Considerando as exportações para todos os mercados, de janeiro a junho desse ano, chegamos à marca de 86.891 unidades embarcadas, um aumento de 62% em relação ao mesmo período de 2016. Sendo a maior exportadora de veículos da história do Brasil, a Volkswagen tem grande vocação para essa atividade e continuará buscando novas oportunidades para os produtos fabricados no País.

Por que a produção do Gol será transferida para Taubaté? O Polo e o Virtus serão as prioridades da empresa para produção em São Bernardo?
Os ganhos com a transferência do Gol para a unidade de Taubaté são muitos. Os principais deles são os ganhos com custos logísticos e de produtividade. Essa transferência do modelo Gol para a unidade Taubaté ocorre pela vinda do Polo e do Virtus na fábrica Anchieta, que chegarão nesse ano e no primeiro semestre do ano que vem, respectivamente. O Gol, que alcançou a marca de 8 milhões de unidades produzidas, agora no início de julho, é feito também em Taubaté desde o seu lançamento. A unidade de Taubaté sempre foi responsável pela produção desse modelo, em conjunto com a unidade Anchieta.