A bolsa iniciou o pregão de segunda-feira, 3, apontando uma valorização de pouco mais de 1% das ações das principais companhias brasileiras. Não havia qualquer notícia importante no radar e, nos Estados Unidos, os negócios estavam mornos à espera do Dia da Independência americana. O que fazia o Ibovespa subir era a liberdade dada ao deputado Rodrigo Rocha Loures, o que recebeu a mala de dinheiro da JBS, e a permissão concedida à Aécio Neves de voltar ao Senado. As decisões saíram do STF na sexta, 30 de junho.

O mercado interpretou as notícias como bons sinais para o presidente Michel Temer e, portanto, para o avanço das reformas defendidas pelos agentes econômicos, que veem na sobrevivência de Temer uma tábua de salvação. Na visão deles, só com o atual presidente no poder, as reformas necessárias, não só para ajudar o Brasil voltar a crescer, mas também para não deixá-lo afundar por completo, poderiam ser aprovadas. Mas, o que faz o mercado se apegar a Temer é, com o perdão do trocadilho, o temor de que o País possa voltar a navegar em mares revoltos sem a aprovação das reformas.

Assim, o mercado decidiu apegar-se ao “só tem tu? Vai tu mesmo”. Mais fraco depois de ter sido denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer terá de ceder – e não deve ser pouco. Da maneira que as reformas estão avançando fica difícil saber se elas atenderão a qualquer anseio social por mais emprego e se servirão de alento aos empresários. Tampouco se darão ao governo condição para fechar suas contas. Na vida real, que é o que importa, ninguém mais sabe como ficará o texto da reforma Trabalhista. Para aprová-la, o governo promete à oposição emendar e remendar o projeto de lei assim que ele for sancionado.

Empregados e empregadores ficam à espera da gambiarra que deve sair dessa nova Medida Provisória. A reforma da Previdência também já foi bastante alterada, ficando longe do que considera ideal o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Muitos acreditam que, do texto original, restará apenas a imposição da idade mínima para a aposentadoria. Dessa forma, em pouco tempo, voltaremos a falar de outra reforma da Previdência, porque essa não bastará. As despesas com INSS, por exemplo, se mantiverem o atual ritmo de crescimento, aumentarão 8% esse ano, mais do que o dobro dos 3% permitidos pela PEC do Teto de Gastos.

Até aqui, tudo o que o governo conseguiu aprovar foram medidas importantes, mas que não resolvem estruturalmente o problema. A PEC do Teto de Gastos e a recente redução da meta de inflação para 4,25%, em 2019, e para 4%, em 2020, são ótimos exemplos. Com essas medidas – mais próximas de um remédio paliativo – ações populistas e inflacionárias ficam restritas no futuro. Agora, denunciado pela Justiça, Temer, enquanto se defende, corre para passar o trator sobre o Congresso para ver se consegue aprovar quaisquer reformas. Nessa semana, o Senado deve votar o texto da Trabalhista. Depois, ele tem até o final do ano para aprovar a reforma da Previdência.

Se deixar o calendário virar, esse tema voltará a ser debatido em 2019. As contas públicas, no entanto, podem ruir em pleno ano eleitoral. Qualquer que seja o resultado, não há mais capital político a ser conquistado por Temer. Nem mesmo o sonhado legado, de ser reconhecido como o presidente reformista, significará muito, pois o próximo inquilino do Alvorada poderá e deverá rever seus atos. Mas, caso consiga uma sequência perfeita de vitórias, ao menos terá o mercado para aplaudi-lo. Para este ser abstrato, ao que tudo indica, uma reforma desfigurada é melhor do que nada.