Os 13 metros de altura dos galpões do estaleiro Azimut-Benetti em Itajaí, no litoral de Santa Catarina, parecem pequenos para as embarcações da empresa. Quem visita o local encontra uma equipe de trabalhadores da operação brasileira do grupo italiano, o maior fabricante de iates de luxo do mundo, dedicada a construir uma espécie de subsolo em uma das linhas de produção para ampliar a distância para o teto em mais de um metro. O esforço especial acontece para que a fábrica possa receber a produção do Azimut 95, barco de 95 pés, o equivalente a 30 metros de largura, e com quase 9 metros de altura.

Será o 8o modelo da marca Azimut Yachts a ser produzido no País, e representa um feito inédito para a indústria nacional. “Será o maior iate de luxo já fabricado no Brasil”, diz à DINHEIRO o CEO global do Azimut-Benetti, Marco Valle. “E também o mais complexo.” No começo de 2018 as primeiras unidades deverão estar prontas, já que dois endinheirados brasileiros não revelados fizeram pedidos de pré-compra do modelo. Essas embarcações levam, pelo menos, nove meses para serem produzidas. Afinal, a construção não é nada simples.

Todos os barcos que levam a estampa Azimut exigem um grande trabalho artesanal. Cada detalhe de design customizado é tratado por mãos humanas. Num grande barco, como o de 85 pés em fase final de construção no estaleiro, encomendado por um dos empresários mais endinheirados do Brasil, havia cerca de 50 pessoas trabalhando simultaneamente, no dia em que a DINHEIRO visitou o local. A expectativa da Azimut é a de vender, nos próximos três anos, cinco unidades dessa embarcação. Os clientes estarão entre os mais poderosos agentes da economia brasileira.

Afinal, o Azimut 95 vale R$ 45 milhões – a título de comparação, os barcos de menor custo da marca saem por R$ 2,5 milhões. É um luxo e tanto mesmo para os clientes costumeiros da empresa, que incluem banqueiros, jogadores de futebol, como Neymar, publicitários do primeiro time, como Roberto Justus, e os mais poderosos empresários, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da JBS e que não saem do noticiário nas últimas semanas. Neste ano, apenas seis unidades da Azimut 95 foram encomendados em todo o mundo, sendo dois deles no Brasil.

De vento em popa: produção da Azimut no Brasil já contabiliza 10% do faturamento anual do grupo no mundo, de € 600 milhões
De vento em popa: produção da Azimut no Brasil já contabiliza 10% do faturamento anual do grupo no mundo, de € 600 milhões (Crédito:Claudio Gatti)

Pode parecer estranha que a empresa aposte em um barco tão luxuoso durante a crise vivida pelo País. Mas, segundo Valle, isso faz todo sentido, já que foram os compradores das maiores embarcações os menos afetados pela desaceleração da economia. E, além disso, o grupo italiano precisa aproveitar o investimento que permitiu tornar a sua fábrica brasileira capaz de produzir artigos tão refinados, com o mesmo padrão de qualidade do estaleiro da empresa em Viareggio, na Toscana.

A Azimut-Benetti foi uma das fabricantes de iates de luxo que, no auge do encanto com os países BRIC, sigla para designar Brasil, Rússia, Índia e China, não resistiu aos atrativos do País. Enquanto o mercado de luxo na Europa sofria, era daqui que vinha o segundo maior número de pedidos de compra para os seus milionários brinquedos aquáticos, atrás apenas dos EUA. Dessa forma, ela decidiu instalar no País a sua primeira fábrica fora da Itália. O estaleiro em Itajaí iniciou sua operação em 2011.

Desde então, produziu mais de 100 embarcações. As condições, no entanto, mudaram bastante desde a sua chegada por aqui. Se a companhia atingiu a venda de mais de 50 unidades em um ano, foram apenas 20, em 2016. Outras companhias internacionais rivais, incluindo a americana Brunswick e a francesa Beneteau, que também aportaram no Brasil para aproveitar o bom momento do começo desta década, voltaram atrás em seus planos de produção.

O grupo italiano, no entanto, resiste. “O mercado está sofrendo no momento, mas ele vai se recuperar. O brasileiro usa bastante os barcos que adquire”, diz Valle. “Fizemos um investimento grande, que ainda vai levar alguns anos para ser compensado.” O aporte inicial foi de R$ 30 milhões. Outra estratégia tem sido apostar nas exportações, e a unidade catarinense já tem avançado nesse sentido. Metade do faturamento da operação brasileira já vem de encomendas internacionais.

E as vendas dos barcos fabricados no Brasil representam 10% da receita global, de € 600 milhões. Um novo modelo esportivo de 40 pés, o Azimut Verve 40, foi desenvolvido para ser produzido na unidade de Itajaí para o mercado dos EUA, e promete uma produção em massa. Afinal, 16 deles já foram encomendados. É um bom contraponto para a exclusividade prometida do superluxo do Azimut 95, garantindo mais equilíbrio às contas do grupo no Brasil.

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