10/02/2017 - 19:00
Em 2013, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, fez uma proposta de US$ 3 bilhões para comprar o Snapchat, rede social fundada por Evan Spiegel, que estava conseguindo atrair a atenção do público jovem. Spiegel recusou a oferta, acreditando que a startup, que tinha apenas dois anos de vida, poderia valer muito mais no futuro. Quase quatro anos depois, ele, aparentemente, tinha razão. A Snap, novo nome da companhia, está prestes a fazer a maior abertura de capital de uma empresa de tecnologia americana desde o Facebook. Estima-se que o valor de mercado da rede social de Spiegel fique entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões, captando US$ 3 bilhões na Bolsa de Nova York, em março.
Uma pessoa, no entanto, pode assombrar a abertura de capital da Snap, cujo símbolo é um fantasma. Trata-se de ninguém menos do que Zuckerberg. Desde que teve sua proposta recusada, o dono do Facebook seguiu uma estratégia de outros lendários empreendedores do Vale do Silício. Assim como Steve Jobs, que copiou um recurso da Xerox para lançar a interface gráfica no computador Macintosh, e Bill Gates, que se inspirou em Jobs para desenvolver seu sistema operacional Windows, Zuckerberg adotou uma série de iniciativas que clonam alguns dos recursos mais atraentes do Snapchat.
Seu objetivo é atrair o interesse do público jovem, que usa smartphone e que resiste a ser alcançado por meio da publicidade de forma tradicional. Não tem sido fácil, no entanto, para Zuckerberg acertar a mão. Desde 2013, ele fez várias tentativas, lançando aplicativos que se pareciam com o Snapchat. Muitos deles fracassaram, como o Poke ou o Slingshot. Em agosto do ano passado, o dono do Facebook parece que, pela primeira vez, conseguiu vencer a resistência do público jovem e aproveitou a marca Instagram.
Na ocasião foi lançado o Instagram Stories, um recurso de seu aplicativo de fotos, comprado por US$ 1 bilhão, em 2012. Com essa nova funcionalidade, as fotos ou vídeos desaparecem depois de 24 horas, assim como no Snapchat. “Quando o Instagram Stories foi lançado, percebemos que foi abrandado o ritmo de crescimento do Snapchat”, diz Jessica Ekholm, diretora de pesquisas da consultoria Gartner. Os dados apresentados no prospecto de abertura de capital comprovam que o Snapchat desacelerou com o acirramento da competição.
Nos três últimos trimestres de 2016, o crescimento do número de usuários avançou apenas 5%. Atualmente, com uma média diária de 161 milhões de usuários, Spiegel assistiu ao Stories, do Instagram, se aproximar perigosamente. Atualmente, o aplicativo do Facebook conta com uma média diária de 150 milhões de usuários. Uma pesquisa do banco de investimento americano Piper Jaffray indica que Instagram e Snapchat estão disputando, cabeça a cabeça, a preferência do público com até 25 anos de idade. Segundo ela, 80% dos pesquisados dizem usar o Snapchat ao menos uma vez por mês.
No caso do Instagram, o percentual é de 79%. “Acreditamos que os dois poderão coexistir”, escreveu o analista Samuel Kemp, da Piper Jaffray, em um relatório. O Instagram não é a única arma do arsenal de Zuckerberg. Em novembro, o Facebook lançou o aplicativo Flash no mercado brasileiro. O novo App tem funções de “máscaras” com realidade aumentada para selfies, semelhante às lentes do Snapchat. As fotos e vídeos instantâneos podem ser compartilhados com os amigos e ficam no ar apenas 24 horas.
Dois meses depois, foi a vez de Zuckerberg anunciar o Stories no próprio Facebook, que conta com uma média diária de 1,2 bilhão usuários. Consumidores da Irlanda estão testando o recurso, que em breve irá para outros países. Além desses obstáculos, a Snap terá de expandir-se globalmente. Atualmente, quase 80% de seus usuários estão concentrados na América do Norte e na Europa. No Brasil, que tem quase 10 milhões de pessoas usando o Snapchat, a empresa conta com um representante comercial para vender publicidade: a IMS.
A Snap, que espera faturar US$ 1 bilhão em 2017, precisará “se reinventar a todo momento”, segundo Jessica Ekholm, do Gartner. Um dos exemplos de inovação citados pela analista são os óculos Spectacles, que a empresa lançou no ano passado. Esse acessório tecnológico possui uma câmera e é capaz de enviar fotos instantâneas para o Snapchat. Ao que tudo indica, a briga entre Snap e Facebook deve durar muito mais do que as efêmeras imagens e vídeos de seus aplicativos.
Plano de ataque
Mark Zuckerberg está tentando atrair o público jovem, copiando o Snapchat
• Instragram Stories
Lançado em agosto de 2016, ele permitia publicar fotos e vídeos que desaparecem após 24 horas, assim como o recurso do Snapchat. Já conta com 150 milhões de usuários diários
• Flash
O Brasil foi o primeiro país a receber o novo aplicativo do Facebook, em novembro de 2016. Ele tem bate-papo que se apaga e compartilha fotos e vídeos que somem. Serviço incentiva o usuário a usar intensamente a câmera, como o Snapchat
• Stories no Facebook
O recurso de publicar fotos e vídeos que desaparecem depois de 24 horas está sendo testado na Irlanda, desde janeiro deste ano. A intenção é liberá-lo para outros usuários em breve