Em 2013, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, fez uma proposta de US$ 3 bilhões para comprar o Snapchat, rede social fundada por Evan Spiegel, que estava conseguindo atrair a atenção do público jovem. Spiegel recusou a oferta, acreditando que a startup, que tinha apenas dois anos de vida, poderia valer muito mais no futuro. Quase quatro anos depois, ele, aparentemente, tinha razão. A Snap, novo nome da companhia, está prestes a fazer a maior abertura de capital de uma empresa de tecnologia americana desde o Facebook. Estima-se que o valor de mercado da rede social de Spiegel fique entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões, captando US$ 3 bilhões na Bolsa de Nova York, em março.

Uma pessoa, no entanto, pode assombrar a abertura de capital da Snap, cujo símbolo é um fantasma. Trata-se de ninguém menos do que Zuckerberg. Desde que teve sua proposta recusada, o dono do Facebook seguiu uma estratégia de outros lendários empreendedores do Vale do Silício. Assim como Steve Jobs, que copiou um recurso da Xerox para lançar a interface gráfica no computador Macintosh, e Bill Gates, que se inspirou em Jobs para desenvolver seu sistema operacional Windows, Zuckerberg adotou uma série de iniciativas que clonam alguns dos recursos mais atraentes do Snapchat.

Evan Spiegel, da Snap: ele recusou oferta de US$ 3 bilhões do Facebook
Evan Spiegel, da Snap: ele recusou, em 2013, oferta de US$ 3 bilhões do Facebook (Crédito:J. Emilio Flores)

Seu objetivo é atrair o interesse do público jovem, que usa smartphone e que resiste a ser alcançado por meio da publicidade de forma tradicional. Não tem sido fácil, no entanto, para Zuckerberg acertar a mão. Desde 2013, ele fez várias tentativas, lançando aplicativos que se pareciam com o Snapchat. Muitos deles fracassaram, como o Poke ou o Slingshot. Em agosto do ano passado, o dono do Facebook parece que, pela primeira vez, conseguiu vencer a resistência do público jovem e aproveitou a marca Instagram.

Na ocasião foi lançado o Instagram Stories, um recurso de seu aplicativo de fotos, comprado por US$ 1 bilhão, em 2012. Com essa nova funcionalidade, as fotos ou vídeos desaparecem depois de 24 horas, assim como no Snapchat. “Quando o Instagram Stories foi lançado, percebemos que foi abrandado o ritmo de crescimento do Snapchat”, diz Jessica Ekholm, diretora de pesquisas da consultoria Gartner. Os dados apresentados no prospecto de abertura de capital comprovam que o Snapchat desacelerou com o acirramento da competição.

DIN1005-snapshat5Nos três últimos trimestres de 2016, o crescimento do número de usuários avançou apenas 5%. Atualmente, com uma média diária de 161 milhões de usuários, Spiegel assistiu ao Stories, do Instagram, se aproximar perigosamente. Atualmente, o aplicativo do Facebook conta com uma média diária de 150 milhões de usuários. Uma pesquisa do banco de investimento americano Piper Jaffray indica que Instagram e Snapchat estão disputando, cabeça a cabeça, a preferência do público com até 25 anos de idade. Segundo ela, 80% dos pesquisados dizem usar o Snapchat ao menos uma vez por mês.

No caso do Instagram, o percentual é de 79%. “Acreditamos que os dois poderão coexistir”, escreveu o analista Samuel Kemp, da Piper Jaffray, em um relatório. O Instagram não é a única arma do arsenal de Zuckerberg. Em novembro, o Facebook lançou o aplicativo Flash no mercado brasileiro. O novo App tem funções de “máscaras” com realidade aumentada para selfies, semelhante às lentes do Snapchat. As fotos e vídeos instantâneos podem ser compartilhados com os amigos e ficam no ar apenas 24 horas.

Dois meses depois, foi a vez de Zuckerberg anunciar o Stories no próprio Facebook, que conta com uma média diária de 1,2 bilhão usuários. Consumidores da Irlanda estão testando o recurso, que em breve irá para outros países. Além desses obstáculos, a Snap terá de expandir-se globalmente. Atualmente, quase 80% de seus usuários estão concentrados na América do Norte e na Europa. No Brasil, que tem quase 10 milhões de pessoas usando o Snapchat, a empresa conta com um representante comercial para vender publicidade: a IMS.

A Snap, que espera faturar US$ 1 bilhão em 2017, precisará “se reinventar a todo momento”, segundo Jessica Ekholm, do Gartner. Um dos exemplos de inovação citados pela analista são os óculos Spectacles, que a empresa lançou no ano passado. Esse acessório tecnológico possui uma câmera e é capaz de enviar fotos instantâneas para o Snapchat. Ao que tudo indica, a briga entre Snap e Facebook deve durar muito mais do que as efêmeras imagens e vídeos de seus aplicativos.


Plano de ataque

Mark Zuckerberg está tentando atrair o público jovem, copiando o Snapchat

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Instragram Stories
Lançado em agosto de 2016, ele permitia publicar fotos e vídeos que desaparecem após 24 horas, assim como o recurso do Snapchat. Já conta com 150 milhões de usuários diários

Flash
O Brasil foi o primeiro país a receber o novo aplicativo do Facebook, em novembro de 2016. Ele tem bate-papo que se apaga e compartilha fotos e vídeos que somem. Serviço incentiva o usuário a usar intensamente a câmera, como o Snapchat

Stories no Facebook
O recurso de publicar fotos e vídeos que desaparecem depois de 24 horas está sendo testado na Irlanda, desde janeiro deste ano. A intenção é liberá-lo para outros usuários em breve