A gestão de Pedro Parente à frente da Petrobras, que completou um ano no dia 30 de maio, pode ser definida em uma palavra, segundo analistas ouvidos pela DINHEIRO: transparência. Ele não apenas melhorou o caixa e reduziu a dívida, mas também se esforçou para melhorar a governança corporativa. Na segunda-feira 5, ele deu mais dois passos nessa direção. O primeiro foi anunciar que a petrolífera seria a primeira a aderir ao programa Destaque em Governança das Estatais.

O segundo foi a divulgação dos critérios de reajuste dos preços do gás de cozinha, único produto de massa da estatal que ainda não tinha tido essa fórmula revelada. Anunciado com pompa, em outubro de 2015, por Leonardo Pereira, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em uma solenidade na BM&FBovespa (atual B3), o programa de governança das estatais foi uma resposta das autoridades aos arranhões provocados na imagem dessas companhias pelas surpreendentes e desanimadoras revelações da Lava Jato.

A primeira adesão demorou, mas a segunda pode vir em breve. Os acionistas do Banco do Brasil devem deliberar sobre o tema na próxima Assembleia Geral Extraordinária, marcada para 5 de julho. Se aprovada, o banco fará o pedido de certificação à B3. Para obter essa certificação, as estatais têm de atender a diversos requisitos, como divulgar diretrizes sobre a composição do Conselho de Administração, da diretoria e do Conselho Fiscal e reservar aos menos 30% das vagas do Conselho a membros independentes (veja quadro ao final da reportagem).

Pedro Parente, CEO da Petrobras: “As medidas vão fortalecer nossa governança e criar barreiras contra medidas que coloquem em dúvida nossa transparência e integridade”
Pedro Parente, CEO da Petrobras: “As medidas vão fortalecer nossa governança e criar barreiras contra medidas que coloquem em dúvida nossa transparência e integridade” (Crédito:Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress)

Elas também precisam criar mecanismos para brecar pressões políticas que extrapolem sua atuação, conforme descrito na lei que permitiu sua criação, e está detalhada em seu estatuto social. Somam-se a isso a elaboração de políticas sobre a diversidade de experiências e qualificações. Além desse programa, a Petrobras estuda a adesão ao Nível 2 de governança corporativa da B3, o padrão mais elevado para empresas com ações preferenciais. Entre elas, o direito de tag along, como é chamada a extensão do preço pago ao controlador aos demais acionistas, em caso de venda do controle.

E o direito a voto aos preferencialistas em situações específicas, como a aprovação de fusões e incorporações da empresa e em contratos com o controlador. “São medidas para fortalecer nossa governança e, ao mesmo tempo, criar barreiras contra medidas que coloquem em dúvida a independência e integridade da nossa empresa no futuro”, disse Parente, ao participar de um evento na B3, em São Paulo. Tudo muito bonito. Mas isso gera valor para o acionista? É isso que os analistas procuram responder.

A governança da empresa é o grande atrativo da ação para Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Corretora. Ele recomenda a compra do papel com preço–alvo de R$ 19. “Estamos vendo a Petrobras retornar a um caminho positivo. E isso passa pela melhoria da governança, que foi seu calcanhar de Aquiles no passado”, diz ele. Com essas medidas, avalia Caetano, a companhia pode reduzir o desconto histórico que suas ações têm em relação aos seus pares. Historicamente, as ações da Petrobras valem 25% menos que as da americana Chevron, da portuguesa Galp e da PetroChina.

Marco Saravalle, analista da XP: “De 2016 para cá, as ações da Petrobras estão mais atreladas à cotação internacional do Petróleo do que ao risco-país”
Marco Saravalle, analista da XP: “De 2016
para cá, as ações da Petrobras estão mais atreladas à cotação internacional do Petróleo do que ao risco-país” (Crédito:Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress)

Marco Saravalle, analista da XP Investimentos, concorda que a percepção de risco da empresa melhorou. “O maior atributo da gestão de Pedro Parente é a transparência. A divulgação mensal da política de preços e a possibilidade de ingresso no Nível 2 da B3 são ótimas sinalizações.” A prova disso é que as ações, que chegaram a ser negociadas a R$ 4,80, em janeiro de 2016, subiram para R$ 16, e fecharam a R$ 12,84 na quinta-feira 8. “Do ano passado para cá, os papéis da Petrobras estão mais relacionados à cotação internacional do petróleo do que ao risco-país”, diz.

Para ele, melhor governança significa redução do custo de captação, menor despesa financeira e melhoria potencial dos lucros – o que pode se reverter em maiores dividendos para os acionistas. Em seu relatório de abril, a XP recomendava a compra das ações, com preço-alvo de R$ 17,50, considerando o preço do barril de petróleo entre US$ 50 e US$ 55. Na quinta-feira 8, o óleo estava cotado a US$ 45,70.
No entanto, o analista da XP avalia que o momento atual é de cautela, devido às incertezas políticas. “No curto prazo, não recomendamos o aumento da exposição.” Porém, os investidores que miram o longo prazo, têm apetite por risco, e se baseiam nos fundamentos da companhia, podem encontrar uma oportunidade de entrada.

Saravalle recomenda uma estratégia cautelosa. Se reservou, digamos, R$ 100 mil para investir na estatal, diz ele, o investidor deveria, inicialmente, aportar apenas R$ 10 mil. “O aumento da exposição teria que ser avaliado periodicamente, porque hoje o cenário político é incerto”, diz. Pedro Medeiros, da Citi Corretora, avalia a Petrobras como uma ação de alto risco por conta de sua exposição à volatilidade do petróleo, do endividamento elevado e da governança corporativa. No entanto, em relatório ele destaca os esforços do presidente da estatal em elevar os padrões de governança nos próximos 12 meses. Qualquer que seja o desfecho da crise política no Planalto, uma coisa parece certa: as mudanças positivas adotadas por Parente serão perenes.

DIN1022-capinha4