Em busca de aumentar a sua competitividade no País, a fabricante de cabos italiana Prysmian anunciou um investimento de R$ 110 milhões na unidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, em maio. Os recursos serão destinados para a modernização e ampliação das instalações no local, mas não alterarão a capacidade produtiva total do grupo no Brasil. O parque renovado abrigará o que hoje é fabricado na operação de Santo André, que será desativada.

Embora enxergue uma melhora em alguns setores em que atua, a companhia avalia ter condições suficientes para atender a demanda prevista para os próximos meses e estima que eventuais ampliações nas fábricas só devam ocorrer a partir do segundo semestre de 2018. Não se trata de um movimento defensivo. As modificações previstas para Sorocaba permitirão mais rapidez nos investimentos futuros de expansão. O caso da italiana ilustra como deve se comportar o investimento nos próximos meses.

Diante da perspectiva de retomada, empresas passaram a avaliar novas injeções de recursos em suas atividades. A crise política, porém, acrescentou um complicador (leia reportagem aqui). Mesmo que seja superada nas próximas semanas, a perspectiva é de que as somas sejam mais tímidas no início, voltadas a atualizações e adaptações para novos produtos, uma vez que há excesso de capacidade disponível. “Estamos aproveitando os volumes mais baixos para ganhar competitividade”, afirma Marcello Del Brenna, presidente da Prysmian na América do Sul. “As mudanças nos colocam numa situação mais favorável para futuras ampliações.”

A corrida dos investimentos será puxada por empresas como a fabricante de cabos, que vislumbram chegar na frente e abocanhar mercado dos concorrentes mais cautelosos. Elas olham uma esperada redução dos juros e a inflação controlada. Dois anos seguidos de recessão deixaram um quadro generalizado de fragilidade. A indústria opera com uma ociosidade média de 23,3%, um dos níveis mais altos dos últimos 14 anos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A construção civil sofre com estoques elevados e o endividamento nas alturas, além do baixo número de projetos de infraestrutura.

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Com vendas em queda, o caixa das empresas foi impactado. As consequências ficaram evidentes na divulgação do PIB do primeiro trimestre. A taxa de investimento acumulou a 12º retração seguida e chegou ao menor nível desde 1996, em 15,6% do PIB. A perspectiva é de estabilidade neste ano, abrindo caminho para uma recuperação mais forte em 2018. “O investimento está em transição”, diz Leonardo Mello de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O pior ficou para trás, mas deixou um resquício de elevada capacidade ociosa, o que tende a atrasar a retomada.”

Suas projeções iniciais eram de uma alta de 0,1% em 2017 e 8,5% no ano que vem, num cenário em que as principais reformas teriam sido aprovadas. Os números estão em revisão. O bom desempenho do agronegócio sinaliza o início de retomada no investimento. A compra de máquinas agrícolas acumula alta de cerca de 30% no ano. A queda da inflação reacendeu o interesse de fabricantes de bens mais essenciais no potencial do mercado brasileiro. A dinamarquesa Nova Nordisk, de saúde, está ampliando a capacidade de produção na fábrica de Montes Claros, em Minas Gerais, de medicamentos para a diabetes.

Já nos chamados bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos, o estímulo deve ser a demanda represada acumulada durante a crise (leia entrevista com o presidente da Sony aqui). A decisão de investimento depende de três questões: a capacidade para atender a demanda futura, o custo de investimento (taxa de juros e custos associados aos projetos), além de confiança na demanda futura. “No momento, os três fatores jogam contra, mas a expectativa de demanda deixou de piorar e logo menos vai mostrar aspectos positivos”, diz o gerente de políticas econômicas da CNI, Flavio Castelo Branco. Para ele, a retomada não depende apenas da política econômica, mas da ousadia individual das empresas.

Além da indústria, o que pode acelerar a taxa de investimento no País é o avanço dos projetos de infraetrutura. “O que está ao alcance do governo é a agenda de leilões”, afirma Mauricio Nakahodo, do MUFG (Banco de Tokyo-Mitsubishi). “Fora isso, é a consequência natural de uma economia que pode voltar a se aquecer.” O banco prevê um avanço de 0,4% na taxa de investimento neste ano e de 3% em 2018. De olho no futuro, o desafio é que os investimentos passem a ter um papel mais relevante ao crescimento, para garantir uma trajetória sustentável do PIB e evitar os gargalos do excesso de consumo, como visto no boom do início da década. Por enquanto, as duas variáveis devem caminhar próximas, ainda em grau tímido.

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