A China deu um passo importante em sua jornada para aumentar o protagonismo na cena econômica mundial ao selar uma série de parcerias e novos financiamentos que ajudarão a viabilizar o seu plano de investimentos de infraestrutura para a região da Eurásia. Representantes de 70 países participaram, no domingo 14, do Fórum do Cinturão e da Rota para a Cooperação Internacional, que discutiu a estratégia para a construção da Rota da Seda.

Ela busca reviver caminhos milenares que conectavam o Ocidente e o Oriente a partir de novos projetos de ferrovias, portos e rodovias. A aposta chinesa de avançar com o plano para três continentes ocorre ao mesmo tempo em que potências como os Estados Unidos e países europeus reduzem influência global, tomados por ondas protecionistas. “Esse é um caminho de abertura para o mundo e não de isolamento”, afirmou o presidente Xi Jinping. O evento contou com a presença dos líderes russo, Vladmir Putin, e do argentino Maurício Macri.

Iniciado em meados de 2013 com orçamento de US$ 40 bilhões, o programa receberá um reforço adicional de quase US$ 15 bilhões do governo chinês. A expectativa é que outros dois bancos chineses também estabeleçam esquemas de financiamento de US$ 55,1 bilhões. Somados os aportes, o programa terá um custo total de US$ 110 bilhões. O Cinturão Econômico da Rota da Seda será constituído por rotas marítimas e terrestres, por meio de pontes, rodovias, ferrovias e túneis.

DIN1019-china2Estão previstos seis corredores econômicos importantes, incluindo a Nova Ponte da Terra da Eurásia; China-Paquistão e Bangladesh-China-Índia-Mianmar. Desde sua criação, 68 países, com um PIB combinado de US$ 21 trilhões – algo como 40% do PIB global – , manifestaram interesse em participar. “A rota fortalecerá a cooperação entre os países e aumentará a musculatura internacional da China”, diz Marcus Vinicius de Freitas, professor de Relações Internacionais da FAAP.

A força chinesa no comércio internacional vem ficando clara desde 2012, quando o país ultrapassou os Estados Unidos em volume de exportações. Mais recentemente a potência asiática vem se posicionando como um dos principais financiadores globais e investidor de peso, com recursos destinados a projetos em trajetos que vão desde países africanos até Venezuela e Brasil. O movimento inclui a criação de novos instrumentos para prover crédito em escala mundial, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o Banco dos BRICS, em alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

“A China criou uma família de instituições financeiras essenciais para o mundo”, diz Marcos Troyjo, diretor do BRIC-Lab na Universidade de Columbia. “Agora, com a Rota da Seda, vai gerar efeito positivo para países de todos os continentes, pois os projetos de infraestrutura mexem com toda a cadeia produtiva.” Isso tudo num ambiente de vácuo deixado pelo EUA após a desistência do presidente Donald Trump de seguir em frente com o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês), que incluia tratados comerciais com o Japão e outros 10 países e serviria de contraponto à influência regional da China.