O sr. investe no Brasil há muito tempo. Foi difícil convencer seu chefe a investir aqui?
Não. Nessa época já administrávamos um fundo de mercados emergentes, então tínhamos mandato para comprar ações em qualquer país. Não precisávamos de aprovação.

Quais as maiores dificuldades de se investir no Brasil naquela época?
Havia dois obstáculos muito sérios. Um deles era a inflação, que tornava muito difícil para nós calcular o valor justo de uma empresa. Os preços eram todos distorcidos, e isso atrapalhava o nosso trabalho. Outro problema era operacional, a custódia das ações. Como ter certeza de que as ações que tínhamos comprado seriam mesmo nossas. Mas isso se resolveu com o tempo.

Qual foi seu primeiro investimento aqui? O sr. ganhou dinheiro?
Foi no início da década de 1990, compramos ações da Telebrás [holding estatal de telefonia, privatizada em julho de 1998]. E foi um excelente investimento, ganhamos entre 50% e 60% em cerca de quatro anos. Desde então, nunca fomos embora. Nossa exposição aumentou ou diminuiu ao longo do tempo, mas jamais deixamos de investir no Brasil.

Mesmo em momentos de crise?
Sim. Reduzimos nossa exposição ao Brasil no início da década passada, quando ficou claro que Lula seria eleito presidente. No entanto, ficamos muito surpresos quando ele manteve a política do ex-presidente [Fernando Henrique] Cardoso, que considerávamos muito boa. Então, voltamos a aumentar nossa exposição ao Brasil.

Como o sr. escolhe ações para investir?
Nossa abordagem é fundamentalista. Procuramos boas empresas, que proporcionam bons resultados, e que por algum motivo estejam baratas. Então compramos e esperamos a valorização. Sempre pensamos em um investimento no longo prazo, por alguns anos, no mínimo.

Que ações atraem o sr. agora?
Estamos um pouco mais otimistas que a média com relação ao crescimento da economia, esperamos um avanço de 0,5% neste ano. Assim, nosso foco está em empresas voltadas ao mercado interno, companhias do setor industrial e bancos.

O sr. deixou de investir na Petrobras quando explodiu o escândalo da Lava Jato. Quando o sr. espera voltar a investir na empresa?
Ainda estamos olhando os números da Petrobras, mas vamos dizer assim: ela está fazendo reformas e mudanças e está melhorando. Tem reduzido sua dívida, o que é uma excelente notícia. Mas nós ainda não tomamos uma decisão de compra. Há muitas oportunidades aqui além da Petrobras.

Em uma entrevista à DINHEIRO em Hong Kong, em 1997, o sr. se queixou da governança das empresas brasileiras. Ela melhorou?
Eu me lembro dessa entrevista. Governança é um problema no mundo todo. Nenhuma família que controla uma empresa gosta de dividir o poder. Mas a Lava Jato teve um efeito surpreendente. A governança está melhorando muito mais depressa do que seria de se esperar. O que está ocorrendo no Brasil é incomum, e revolucionário. O Brasil está se movendo muito mais depressa do que outros países em suas reformas, e isso é muito estimulante para investidores como nós.

O sr. vem ao Brasil sempre antes do carnaval. Por quê?
Adoro o Carnaval, venho há nove anos. Uma das coisas que me impressiona no Carnaval no Rio é a maneira como o povo consegue fazer um show tão grande de maneira organizada. Isso é um reflexo da capacidade que os brasileiros têm de fazer as coisas. Quando se noticiou que a Copa do Mundo seria realizada aqui, muitas pessoas que conheço disseram que não seria possível. Eu disse ‘não se preocupem, o Brasil vai fazer tudo direitinho’. Os brasileiros foram capazes de realizar a Copa do Mundo sem problemas, de realizar os Jogos Olímpicos sem problemas. Não há nenhuma dificuldade de o Brasil realizar grandes eventos.