O presidente da Vale, Murilo Ferreira, procurou dissociar sua atuação na Vale de interferências políticas de qualquer natureza ao comentar sua saída da companhia, a partir de maio, quando termina seu atual mandato. O anúncio foi feito nesta sexta-feira, 24, em fato relevante.

Ferreira afirmou que ele não se pode dirigir uma empresa a partir de um viés político ou partidário. “Não misturo política com o melhor interesse da empresa. Desafio qualquer um a encontrar uma decisão minha submetida ao conselho (de administração) em favor de grupo político”, afirmou a jornalistas.

Notícias publicadas nos últimos dias dando conta de que ele estava fazendo incursões no meio político para preservar seu mandato aceleraram uma decisão sobre o cargo, disse o executivo. Questionado sobre o grau de interferência política na Vale, Ferreira disse que quando foi indicado para o comando da empresa, no governo Dilma Rousseff, a versão da imprensa era que ele tinha a missão de implantar siderúrgicas, porque a Vale deveria ser verticalizada.

A recusa de seu antecessor, Roger Agnelli, de levar a frente esses projetos, contrariando o interesse do governo à época, teria levado a sua queda. Segundo Ferreira, o fato de nenhum projeto siderúrgico com a participação da Vale ter saído do papel durante seu mandato prova o contrário. “É demonstração clara que nós preservamos o melhor interesse da empresa. O melhor interesse da Vale era não verticalizar”, disse.

De acordo com o presidente da Vale, receber pressões de agências e políticos faz parte do dia a dia de uma companhia, principalmente uma concessionária de mineração e logística, como a Vale. “A capacidade de absorver (as pressões) é parte do dia a dia profissional”, afirmou.

Segundo ele, a Vale nunca teve relações políticas tão positivas quanto hoje. Ele mencionou os governadores do Pará, Simão Jatene (PSDB), do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), e Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), onde a mineradora tem suas principais operações. Recentes notícias dão conta de que o PMDB e o PSDB de Minas, onde a Vale é uma potência, têm pressionado o governo Michel Temer reivindicando a indicação para o comando da Vale.

O presidente da Vale afirmou que a profusão de notícias nos últimos dias envolvendo a sua permanência na companhia precipitou uma definição sobre seu contrato. O executivo, que deixará a Vale em maio após seis anos, negou que tenha feito campanha junto a políticos para permanecer no cargo. “Resolvi acelerar a definição desse assunto quando saiu uma notícia de que eu estava fazendo incursões no meio político para preservar o meu mandato. Posso garantir que nunca fiz incursões no meio político para obter o meu mandato”, afirmou Ferreira em teleconferência com jornalistas.

De acordo com o executivo, a não renovação de seu contrato foi definida na noite de quinta. O executivo, entretanto, não detalhou esse processo, nem quis nomear os participantes de uma reunião realizada às 9 horas desta sexta na Vale para, segundo ele, “fazer o alinhamento” da decisão tomada na véspera.

Na segunda-feira, ao comentar a conclusão dos novos termos do acordo de acionistas da companhia, Ferreira disse que ainda não tinha discutido com a empresa a renovação de seu contrato, porque estava focado em ajudar a fechar o novo acordo. “Sou uma pessoa muito focada em fazer uma coisa de cada vez e senti que o assunto (do mandato) havia sido precipitado. Não pensava em levá-lo a consideração agora, mas esquentou de tal forma, merecendo até coluna de jornal, que achei que deveria acelerar”, disse.