Principal parque de diversões do Estado de São Paulo, o Hopi Hari enfrenta uma série de dificuldades, que deve resultar no fechamento do empreendimento. Entre elas, estão uma dívida que ultrapassa os R$ 400 milhões, a falta de seguro contra acidentes e o corte do fornecimento de luz. Há cerca de um mês, o parque funciona à base de geradores, mas, segundo informações apuradas pela DINHEIRO, o contrato de aluguel dos equipamentos, cujo pagamento foi adiantado, dificilmente será renovado.

Trata-se de um fim melancólico para um empreendimento que, quando foi inaugurado, tinha a pretensão de ser “o lugar mais feliz do mundo”, a chamada Disneylândia brasileira. “Estamos considerando fazer uma pausa no atendimento ao público, tomar fôlego e voltar com toda força”, afirmou, em nota, José Luiz Abdalla, presidente da empresa, na sexta-feira 12. Há um mês, o empresário assumiu 95% do controle acionário do parque e, agora, tenta reerguê-lo.

A tarefa será árdua. Se fosse criado um brinquedo para representá-la, certamente seria batizado de “Missão Impossível.” No último sábado, apenas 10 pessoas estiveram no local. O dia “D” para Abdalla será 23 de junho. Nessa data, acontecerá a segunda chamada da assembleia de acionistas convocada pela administradora judicial da companhia. O Hopi Hari entrou com pedido de recuperação judicial em outubro, quando a dívida ainda somava pouco mais de R$ 300 milhões.

Desde então, a antiga administração teve pouco sucesso em modificar a situação. Em uma petição protocolada na 1ª Vara Cível da Comarca de Vinhedo (SP), onde corre o processo, a Gisante Sociedade de Advogados, na qualidade de administrador judicial do parque, afirma que a empresa deixou de enviar uma série de documentos; sem justificativa, apresentou nova relação de credores, atrasando o andamento do feito; e negociou a transferência de ações sem comunicar nos autos. Por isso, pede que os ex-controladores sejam intimados para resolver as pendências.

Provavelmente, o futuro do parque será definido pelo BNDES, que é o maior credor da companhia. Caso não haja acordo, será o fim de um ambicioso projeto, que teve início em 1999. O empreendimento recebeu investimentos de US$ 200 milhões de um grupo de pesos pesados do mercado financeiro: a GP Investimentos e os fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil; Petros, da Petrobras; Funcef, da Caixa; e Sistel, das empresas de telefonia.

A estimativa era faturar R$ 200 milhões por ano. Mas o máximo que conseguiram foi uma receita de R$ 70 milhões, em 2008. Dez anos depois, o controle do parque foi passado para a consultoria Íntegra, formada por ex-gestores da GP, entre eles Luciano Corrêa, que respondia pela gestão do parque antes de Abdalla assumir. Erros de gestão e negligência na segurança foram os maiores problemas. Em 2012, a estudante Gabriella Nichimura, de 14 anos, morreu após cair de um brinquedo, por uma falha na trava de segurança. Em janeiro, três ex-funcionários foram condenados por homicídio culposo.

A família processou o Hopi Hari em mais de R$ 4 milhões e acabou fazendo um acordo, por um valor não revelado. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores de Parques de Diversão (Sindiversão), hoje não é seguro frequentar as atrações. A entidade aguarda a marcação de uma audiência na Justiça para tratar da situação dos 300 funcionários e deve pedir o fechamento temporário do Hopi Hari.

Sobre a questão do seguro, Abdalla afirma que, por não existirem empresas especializadas no segmento, ele não consegue fechar contrato. Também não é bem assim. Segundo um executivo do setor de seguros, no caso do Hopi Hari, o problema é da empresa. “As seguradoras faziam quando o parque estava bem financeiramente”, diz o executivo. “Mas, agora, ninguém vai aceitar esse risco.” Talvez seja o momento para deixar a fantasia de lado e aceitar que é melhor não arriscar mais a vida de ninguém.