Diante da possibilidade de serem criadas barreiras à carne brasileira no exterior, a principal ação da cúpula do governo federal, neste momento, será a de levantar a bandeira de que os problemas revelados na Operação Carne Fraca são casos “isolados”. “Não é que toda a carne brasileira esteja com problema. Nossa mensagem em resumo será isso. Será um trabalho duro, hercúleo, mas que deverá ser feito, sob o risco de perdermos mercado, que é a nossa principal preocupação”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira.

Depois das declarações públicas do presidente Michel Temer e do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de que os frigoríficos brasileiros não podem ser prejudicados por casos pontuais, integrantes do governo vão ecoar o mesmo discurso na rodada de negociações em torno do tratado de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, prevista para começar nesta segunda-feira em Buenos Aires (Argentina).

“Estamos com equipe na comissão negociadora bilateral do Mercosul e União Europeia e acredito que o assunto deverá ser inserido na pauta do encontro. O que podemos fazer é trabalhar, junto com o Ministério da Agricultura e o Itamaraty, no diálogo para tranquilizá-los”, disse o ministro do MDIC, Marcos Pereira.

Ele participou no domingo de reunião com o presidente Temer e representantes do setor, no Palácio da Alvorada.

“Vamos mostrar primeiro a transparência do governo e dizer que é um assunto menor. Temos mais de 4.800 unidades sujeitas a inspeções e apenas 21 tiveram problemas. Precisamos separar o joio do trigo. Não é que toda a carne brasileira esteja com problema. Nossa mensagem em resumo será isso. Será um trabalho duro, hercúleo, mas que deverá ser feito, sob o risco de perdermos mercado, que é a nossa principal preocupação”, ressaltou Pereira.

Na avaliação de Pereira, caso ocorram barreiras de países que compram a carne brasileira, um dos primeiros impactos na economia brasileira será a ampliação no número de desempregados. “Se isso aumentar e eles restringirem as exportações do produto como um todo, é claro que vai gerar um enorme impacto, porque 20% da produção é para fora. Isso evidentemente preocupa e pode gerar desemprego. Não havendo como o fluxo de comércio seguir normal, vai gerar problema na cadeia produtiva como um todo”, considerou.

Reações

Nesta segunda-feira, autoridades da Europa exigiram que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu e pede que membros do bloco adotem “uma vigilância extra” ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes. Bruxelas confirmou que, se o Brasil não retirar essas companhias da lista de exportação, a União Europeia vai bloquear a entrada dos produtos.

Paralelamente, a China pediu ao governo brasileiro explicações sobre a Operação Carne Fraca. Segundo o ministro Maggi, o Brasil dará todos os esclarecimentos aos chineses o mais rápido possível. “Até receber as informações, a China não desembarcará as carnes importadas do Brasil”, destacou o ministro em nota divulgada nesta manhã. Ainda conforme o comunicado, hoje à noite, o ministro terá uma videoconferência com autoridades chinesas para prestar esclarecimentos.

O ministério disse também que, até o momento, a China foi único mercado a fazer comunicado oficial sobre o caso ao ministério. Mais cedo, a assessoria do Ministério da Agricultura havia dito que China e Coreia do Sul já haviam informado a suspensão de importação de carnes brasileiras em consequência das revelações da Operação Carne Fraca, porém, sem divulgar notificação oficial.

Conforme as primeiras informações da assessoria do ministério, a China havia suspendido os embarques programados por uma semana, enquanto a Coreia do Sul havia bloqueado apenas os embarques da BRF. Há informações, ainda não oficiais, de que o Chile também deve suspender temporariamente suas importações de carne do Brasil.