Quatro setores do comércio absorveram quase a metade dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) liberados em março, o primeiro mês do ano no qual o governo colocou em prática a medida para impulsionar a atividade econômica.

Isso é o que revela um estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), obtido pelo Estado, para saber o destino do dinheiro extra. Em março foram liberados R$ 5,5 bilhões do FGTS e, juntos, os setores de vestuário e calçados, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos, farmácia e perfumaria capturaram R$ 2,65 bilhões ou 48% desse total.

“Essa fatia de recursos destinada às compras pode parecer muita coisa, mas não é”, afirma Fábio Bentes, o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e responsável pelo estudo. Ele explica que, por causa da alta propensão a consumir dos brasileiros, era esperada uma destinação maior dessa cifra para as compras. No entanto, o resultado, segundo o economista, corrobora a hipótese de que o alto nível de endividamento das famílias nos últimos anos contribuiu para reduzir o impacto positivo desses recursos extras sobre o varejo. “A maior parte dos recursos pode ter sido direcionada para a quitação de dívidas, poupança ou gasto com serviços”, calcula.

De dez segmentos acompanhados pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo mostra que apenas quatro foram beneficiados em vendas por essa injeção extra de dinheiro. Bentes explica que, para chegar a esses resultados, o estudo considerou para avaliar o desempenho de vendas do mês de março diferentes variáveis, entre as quais estão o comportamento normal das vendas desse mês (a sazonalidade), dos preços, da procura por crédito e da massa de rendimentos. Feitos os ajustes, o economista constatou que apenas quatro segmentos tiveram desempenho fora do padrão para essas variáveis e atribuiu o resultado ao impulso dado pelos recursos do FGTS.

Vestuário

Quem mais tirou proveito do FGTS foi o segmento de artigos de vestuário e calçados, que absorveu R$ 1,19 bilhão ou 44,9% do total. “Sentimos uma melhora nas vendas desde o final de fevereiro e em março”, afirma Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira de Varejo Têxtil, que reúne 22 grandes grupos do varejo de moda. Ele pondera que não tem dados exatos sobre o impacto do FGTS, mas acredita que esse fator também colaborou para bom resultado.

O executivo acrescenta que o clima mais frio neste ano, a base fraca de comparação e os preços mais comportados da coleção contribuíram para o resultado favorável. Bentes destaca que em março as vendas do segmento cresceram 11,7% ante igual mês de 2016. Foi o melhor desempenho mensal em bases anuais desde fevereiro de 2011. O fato de a venda do segmento ter valor médio baixo também impulsionou os negócios, diz ele.

Na vice-liderança da captação desses recursos está o segmento de materiais de construção, que captou R$ 594,4 milhões. Cláudio Conz, presidente da Anamaco, que reúne os varejistas do setor, diz que, na comparação mensal, março foi o melhor mês do ano: cresceu 11% ante fevereiro. “O comportamento normal para o período é uma alta de 4%.” Segundo o IBGE, as vendas do setor aumentaram 9,4% em março ante 2016, o melhor resultado desde fevereiro de 2014. Móveis e eletrodomésticos captaram R$ 530,2 milhões do FGTS e farmácias, R$ 337 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.