Entra governo, sai governo no âmbito dos países integrantes do Mercosul e a prática de políticas protecionistas e, por tabela, limitadoras de um maior desenvolvimento do bloco continuam as mesmas. É o que se pôde verificar, mais uma vez, no encontro e agenda de intenções dos presidentes Maurício Macri e Michel Temer na semana passada, em Brasília. Macri, que já expôs abertamente seus pendores pseudo nacionalistas e retrógados ao anunciar restrições para imigrantes de países vizinhos – tal qual um Trump dos pampas – veio pedir, como era previsível, maior equilíbrio na balança com o Brasil.

Leia-se facilidades para exportar mais sem a exigência de contrapartida, tornando ainda mais anacrônica a relação entre essas duas economias absolutamente desproporcionais no que produzem e ofertam. Já não bastassem os entraves argentinos na via que deveria ser de mão dupla obedecendo critérios de capacidade de cada um, Macri almeja diminuir o seu déficit na base de restrições a compra dos carros produzidos no Brasil. Um despropósito! A política argentina de licenciamento tem gradativamente imposto barreiras às importações, numa tática que fere de morte os princípios liberalizantes do bloco.

O Brasil segue, teimosamente, nesse abraço de afogados carregando a tiracolo não só a Argentina como os demais integrantes, enquanto deixa de lado a possibilidade de firmar acordos bilaterais mais vantajosos com nações desenvolvidas. Qual a razão de insistir numa união aduaneira cujo único papel reservado para o principal representante do bloco, no caso o Brasil, é assistencialista? Não dá para continuar nesse toada de promoção de socorro e ajuda aos parceiros latinos em dificuldade, sem vislumbrar crescimento nos resultados de nossa balança comercial.

No encontro de Macri e Temer sobraram platitudes como as dispostas na carta de intenções que se referem ao “objetivo de aprofundar a integração da infraestrutura física” dos dois países. Também houve espaço para planos ambiciosos como o de ocupar as lacunas deixadas pelos EUA no plano internacional via quebra de acordos de livre comércio. Alvo um dessa dupla: o México, nos últimos tempos abandonado à própria sorte.

A estratégia nesse sentido ainda não está bem definida. Temer e Macri, em suas conversas, passaram ao largo de questões concretas como o voto de apoio à pretensão brasileira de ocupar uma vaga permanente no conselho de segurança da ONU. Ponto para Macri, que não tem papas na língua, pede o que quer e não ouve, em contrapartida, qualquer exigência do interlocutor. Decerto, o que esse encontro voltou a demonstrar é a crescente irrelevância do Mercosul. Do jeito que vai, seu futuro não é nada promissor.

(Nota publicada na Edição 1005 da Revista Dinheiro)