Cartão é algo popular no Brasil. Segundo os dados mais recentes do Banco Central (BC), eram 165 milhões os cartões de crédito e débito em carteiras e bolsas, que movimentam muito dinheiro. As projeções do mercado são de que esse mar de plástico processe R$ 1,2 trilhão neste ano, um crescimento de 5% em relação a 2016. Porém, se pagar com cartão é para muitos, processar essas transações é para pouquíssimos. Apesar de não haver estatísticas consolidadas oficiais recentes – o último levantamento do BC vai até dezembro de 2015 – é possível dizer que o mercado pertence a três empresas.

Cielo, ligada ao Banco do Brasil e ao Bradesco; Rede, controlada pelo Itaú Unibanco; e Getnet, de propriedade do Santander, respondem por cerca de 95% da movimentação dos pagamentos. Os 5% restantes dividem-se entre uma dezena de pequenas companhias e alguns novos entrantes nesse mercado. O mais recente deles – e com maior potencial de incomodar a concorrência – traz consigo um nome bem conhecido no mundo financeiro: o do Banco Safra. Lançada no início de junho, a Safra Credenciadora de Pagamentos (mas pode chamar de Safra Pay) pretende colocar sua maquininha nos balcões, ao lados dos equipamentos da concorrência. “A ordem da nossa equipe é não perder negócio na hora de oferecer o serviço”, diz Gustavo Gomes, superintendente da Safra Pay.

Gomes veio da Cielo, mas já se acostumou ao jeito Safra. Por isso, fazer comentários sobre números está fora de questão. O banco não revela quanto investiu no negócio – a concorrência estima algo entre R$ 50 milhões e R$ 70 milhões – nem o percentual do mercado que a Safra Pay pretende capturar. Um experiente consultor, que conhece bem tanto o setor quanto o banco, avalia que, ao atingir sua velocidade de cruzeiro, a nova empresa dos Safra deverá estar processando ao redor de R$ 100 bilhões em transações por ano.

“O mercado brasileiro é crescente, deve atingir R$ 1,5 trilhão em transações até 2020”, diz ele. “Não é absurdo pensar que um banco como o Safra, que tem bastante capital e é pouco alavancado, não possa crescer nesse mercado, especialmente se for agressivo na concessão de crédito aos clientes.” Crédito é o ponto fulcral da iniciativa do Safra. “O banco vai trabalhar não apenas com as empresas que já são clientes, mas também vamos buscar clientes novos”, diz Gomes. Um dos poucos números que ele revela é o de pessoas contratadas para credenciar novos estabelecimentos. São 40, apenas para a cidade de São Paulo.

Toma lá, dá cá: tarifas elevadas cobradas do varejista (Crédito:Tiago Queiroz/Estadão)

A meta, afirma, é ter equipes em âmbito nacional, credenciando empresas. O começo será pelos clássicos de varejo, como restaurantes, supermercados, postos de combustível e lojas de roupa. Ao mirar nesse grupo, o Safra pretende amplificar algo que já faz bastante bem: conceder crédito com base em títulos a receber. Feijão com arroz do sistema bancário, esse tipo de operação financeira é rentável, segura e permite uma razoável venda de produtos financeiros adicionais, como seguros e gestão de fluxo de caixa. Ao instalar as maquininhas de cartões nos estabelecimentos, os bancos colocam um pé dentro do cliente e ficam sabendo exatamente qual a movimentação, a margem de lucro e o risco de inadimplência.

Fica mais fácil deslocar o banco com o qual esses estabelecimentos já têm um relacionamento. Com isso, o banco Safra pode concorrer, praticamente de igual para igual, com os grandes do mercado, sem ter de imobilizar uma fortuna em agências físicas. Movimentos como esse não são novidade. No início da década passada, o então Unibanco cresceu aceleradamente na região Nordeste ao comprar a Hypercard, empresa pernambucana que emitia cartões de crédito e que tinha cerca de 60 mil estabelecimentos cadastrados na região. Agora, é possível ao Safra repetir essa estratégia, aproveitando-se de que as adquirentes, por aqui, ganham muito dinheiro.

“Na média, a margem Ebitda de empresas como a Cielo é de 50%, e podemos oferecer preços mais competitivos”, diz Gomes. Outro ponto é a tarifa cobrada pelas empresas de adquirência. Segundo o Banco Central, na média, os lojistas deixam 2,75% do valor de cada venda com cartão de crédito, e 1,51% das vendas com cartão de débito, com a empresa que instalou a maquininha sobre o balcão. No caso de lojas menores, esse percentual pode chegar a 4%, muito acima dos 1,2% em média cobrados no mercado internacional. Oferecer taxas menores é uma vantagem, algo que o Safra pretende explorar.