A Europa sente um sopro de otimismo com a eleição de Emmanuel Macron, na França. Os integrantes do Mercado Comum respiram aliviados. A moeda euro ganha sobrevida. O redesenho do bloco, fragmentado desde a avalanche do Brexit, parece seguir rumo à acomodação. O risco imposto pela rival de Macron, a extremista de direita, Marine Le Pen, que flertava sem cerimônia com o fascismo da pior espécie, está ao menos temporariamente dissipado. Com o seu discurso e propostas protecionistas, Le Pen colocava em xeque não apenas os ventos libertários que arejam o espírito dos conterrâneos de De Gaulle.

A grande, maior ameaça, da sectária Le Pen era o esfacelamento definitivo da globalização, com bilhões de dólares indo pelo ralo enquanto a humanidade mergulhava numa era de trevas e intolerância sem fim. Trump e Brexit colaboraram muito nesse sentido. Mas Macron pode ajudar a romper um elo importante da cadeia de eventos. Sua maior batalha ainda está por vir. As eleições legislativas nas quais precisa obter maioria do Parlamento para seguir adiante com a sua plataforma de governo.

Quer e prega Macron no campo da economia: uma reaproximação mais intensa de países parceiros com o objetivo de incremento dos negócios e sinergias, a ampliação dos acordos comerciais e a modernização dos sistemas produtivos, incluindo o desafio de reduzir o tamanho do estado no setor. Leiam-se privatizações, contra as quais ele ainda enfrenta enormes resistências do corporativismo público. Tal qual ocorre em diversas partes do mundo, aqui no Brasil inclusive.

Macron é o novo, não apenas por sua juventude como pelas ideias que carrega. Almeja a aura de reformista. Promete reduzir o gasto público de 56% do PIB para 52% ainda no primeiro ano de gestão. Hercúlea batalha. Seus obstáculos se concentram principalmente nos sindicatos de funcionários públicos, fortemente organizados e contrários a qualquer mexida nesse sentido. Na zona do euro, Macron conta com a aliada de peso, a alemã Angela Merkel, que compartilha dos mesmos anseios.

Macron só será bem-sucedido se conseguir mexer no establishment político francês que impera há décadas e resiste aos sinais de austeridade fiscal. Nunca foi o forte da região. Daí o débâcle que assola não apenas a França como vários dos vizinhos. Populismo isolacionista não rima com desenvolvimento. É um passo rumo ao autoritarismo que bandeou-se para outras praças. Por enquanto, Macron já conseguiu o mais importante: evitar, nas urnas, a dissolução inexorável daquele que é o mais antigo e frutífero acordo de livre mercado do planeta. Ponto para ele.

(Nota publicada na Edição 1018 da Revista Dinheiro)