Kiev abrirá uma investigação sobre a suposta entrega de motores ucranianos à Coreia do Norte em plena escalada verbal com Washington, anunciou nesta quarta-feira o presidente Petro Poroshenko.

“Pouco importa se as acusações contra a Ucrânia são absurdas, como sócios temos que comprovar minuciosamente as informações publicadas pelo The New York Times sobre a suposta entrega de motores ou tecnologia apropriada para a Coreia do Norte”, declarou o presidente ucraniano no Facebook.

Para Poroshenko, a investigação permitirá confirmar que as acusações contra a Ucrânia são invenções e também servirá para “localizar a verdadeira fonte que está por trás desta fake news”.

Na véspera, a agência espacial ucraniana informou que os motores de foguetes produzidos na Ucrânia e que, segundo um estudo, teriam permitido a Pyongyang realizar avanços espetaculares em matéria de mísseis, foram entregues em sua totalidade à Rússia.

Moscou indicou que as modificações necessárias não teriam sido possíveis sem “especialistas ucranianos”.

De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), um centro de reflexão britânico, os mísseis usados nos últimos testes norte-coreanos contavam com motores feitos com base no RD-250, fabricado na usina de Yuzhmash, anteriormente soviética e atualmente ucraniana.

Estes motores, preparados até 2001, eram vendidos em foguetes Cyclone-2 e Cyclone-3 “em benefício da Rússia”, explicou à imprensa Yuri Radchenko, diretor da agência espacial ucraniana.

“Segundo as informações que temos, a Rússia conta atualmente […] com entre sete e 20 foguetes” deste tipo, acrescentou.

Não obstante, “depois puderam entregar uma parte a quem quisesse”, continuou.

A Coreia do Norte conseguiu em dois anos um novo tipo de míssil de médio alcance, o Hwasong-12, e o seu “irmão mais velho”, o Hwasong-14, um míssil balístico intercontinental (ICBM).

De acordo com o IISS, para poder realizar esta transição em um período tão curto, Pyongyang teve que usar “um motor de combustível líquido de alto rendimento procedente de uma fonte no exterior”.

O centro de reflexão afirmou que os engenheiros norte-coreanos não têm os conhecimentos necessários para modificar o RD-250, que só pode ser adaptado nas fábricas ucranianas ou russas.

“Para utilizar desta forma estes motores e este foguete é indispensável ter acesso às tecnologias de produção de combustível dos foguetes. A Coreia do Norte não dispõe de tais tecnologias, mas sim dois países: Rússia e China”, explicou Radchenko.