Se há um instrumento da política monetária completamente distorcido em relação às atuais circunstâncias da economia são as taxas de juros. Escorchantes e por vezes irreal, no momento elas mais uma vez não se justificam no atual patamar, principalmente com a acelerada queda da inflação. O próprio Banco Central reviu, há poucos dias, para baixo os índices inflacionários que devem balizar o mercado neste ano e no próximo. E os indicadores são extremamente animadores. No atual contexto abre-se gradativamente e de maneira perigosa um gigantesco fosso de distância entre as duas taxas – de inflação e juros – privilegiando a ciranda financeira e os ganhos de capital, em detrimento dos investimentos tanto públicos como privados.

Com os juros pressionando as dívidas de Estado e limitando as movimentações de crédito – por absoluto desinteresse dos agentes em tomar empréstimos impagáveis nesse patamar – o Governo acaba por montar um cabo de força no qual ninguém sai vencedor. De uns tempos para cá, a equipe da Fazenda até se inclinou a aumentar o ritmo de queda dos juros, mas têm feito isso numa velocidade ainda aquém da necessária. O movimento, até surpreendente, da última baixa da ordem de 1%, fixando a Selic no nível de 11,25% ao ano, foi bom. Ainda assim deixou a velha sensação de um cachorro correndo atrás do próprio rabo.

Com a carestia girando na casa dos 4% a 5% no mesmo período a gordura – ou sobra que se reverte em ganho apenas para investidores – supera os 6%. É a melhor coisa do mundo viver de renda com tamanho lucro! Poucos negócios no atual cenário têm tal potencial de rentabilidade garantida. Após a hecatombe financeira dos anos Dilma, com a inflação em desabalada carreira, a moderação na alta de preços se tornou uma realidade com a troca de governo. No tabuleiro de condicionantes para juros na faixa de um dígito, esse era um fator decisivo. A expectativa de reviravolta não se confirmou. Alegam as autoridades que ainda faltam outros elementos para cravar um abate consistente das taxas.

Entre eles, as reformas e ajustes que estão em discussão no Congresso. O ministro Henrique Meirelles foi taxativo em apontar que sem reformas (especialmente a da previdência) os juros podem voltar a subir. O que seria um desatino. Tome-se o caso da despesa com rolagem de dívidas da União, que explodiria. No setor público, além de comprometer a retomada, a Selic nessa toada vem acentuando as dificuldades de caixa e agravando o tamanho do déficit. Juros baixos, mais realistas, estimulam (como todos sabem!) o ciclo produtivo, injetando liquidez na praça, desafogando as linhas de crédito e provocando ânimo para investir e consumir, na rota do crescimento desejado.

(Nota publicada na Edição 1015 da revista Dinheiro)