Autoridades políticas e a imprensa no Irã prestaram, neste domingo (16) homenagens à Maryam Mirzakhani, uma matemática de origem iraniana que foi a primeira mulher a ganhar a Fields Medal, falecida no sábado aos 40 anos em um hospital americano.

Segundo a imprensa iraniana, Mirzakhani morreu em razão de um câncer, que combateu por quatro anos, e que se estendeu à medula óssea.

A maioria dos jornais publicaram em suas capas grandes fotos de Mirzakhani, inclusive sem véu, em sua memória.

“Gênio da matemática cedeu diante do poder da morte”, era a manchete do jornal conservador Hamshahri, que publicou sua foto sem o véu islâmico. Este também foi o caso do jornal econômico Donaye Eghtessad, cuja manchete foi: “Última viagem da rainha da matemática”.

O presidente Hassan Rohani já havia publicado no sábado uma foto da matemática sem véu em seu Instagram, lamentando seu “triste falecimento” e saudando “o gênio inédito dessa criativa cientista” e sua modéstia.

No Irã, todas as mulheres devem portar o véu para cobrir o cabelo e os meios de comunicação jamais publicam imagens de mulheres iranianas sem véu.

Em 2014, Mirzakhani ganhou a Fields Medal, equivalente ao Nobel da Matemática, entregue pelo Congresso Internacional de Matemáticos. Essa especialista na geometria de formas incomuns havia descoberto novas maneiras de calcular os volumes de objetos com superfícies hiperbólicas, como a sela de montar cavalo.

“Apesar da natureza sumamente teórica de seu trabalho, tem aplicações em Física, Mecânica Quântica e em outras disciplinas fora da Matemática”, destacou o jornal “Stanford News”, da universidade homônima, situada na Califórnia, nos EUA.

Mirzakhani nasceu e cresceu em Teerã e estudou Matemática na Universidade Tecnológica de Sharif, que fica na capital, antes de obter seu Doutorado em Harvard, em 2004.

Em 2009, foi agraciada com o Prêmio Blumenthal sobre pesquisa em Matemática Pura e, em 2013, com o Prêmio Satter, da Sociedade Matemática Americana.

Ficou conhecida no cenário internacional da Matemática ainda adolescente, ao ganhar medalhas de ouro nas Olimpíadas Internacionais da Matemática em 1994 e em 1995.

Ela deixa marido e uma filha.

Apenas dois jornais conservadores, Kayhan e Resalat, não falaram de Mirzakhani em sua capa.

“Seu trabalho vai além da minha compreensão, mas eu entendo a sua grande inteligência”, declarou Nima Zaare, um artista iraniano em Teerã que desenhou um retrato da matemático quando ela recebeu o seu prêmio.

“Normalmente eu não faço retratos, mas foi uma grande honra fazer o retrato de um gênio. Entrei em choque quando soube de sua morte”, acrescentou.

Quando o Irã e os Estados Unidos romperam relações diplomáticas em 1980, Maryam Mirzakhani deixou seu país para a universidade americana de Harvard. Ela obteve seu doutorado em 2004 com uma tese chamada de “obra-prima” pela Stanford News.

“Para apreciar o que Mirzakhani fez, é preciso criar amplas oportunidades para outras Maryams do país”, escreveu no jornal Shargh Azar Mansouri, uma reformista, exortando o presidente Rohani a nomear mulheres em seu próximo governo.