As ações de companhias siderúrgicas vêm galvanizando os investidores nos últimos meses. Entre o fim de 2015 e a quarta-feira 15, enquanto o Índice Bovespa subiu 56,8%, as ações das principais companhias negociadas na bolsa – Gerdau, CSN e Usiminas – avançaram 221% em média, ante cerca de 57% do Índice Bovespa. Só neste ano, as três cravaram ganhos ao redor de 25%. O principal motivo é um aumento da demanda internacional pelo minério de ferro, principal insumo das siderúrgicas. A alta nas cotações internacionais do minério provoca movimentos análogos nos preços do aço, o que melhora as margens de lucro das empresas.

Cronologicamente, a primeira leva de boas notícias veio dos Estados Unidos. O pacote de investimentos na infraestrutura sinalizado por Donald Trump deve elevar a demanda americana por aço, beneficiando as brasileiras que possuem operações nos Estados Unidos, como Gerdau e CSN. Já a China, maior consumidor do mundo, anunciou, no dia 10 de fevereiro, um aumento de 16,7% de suas importações globais em janeiro ante o mês anterior. O grosso das compras inclui, além do carvão e do petróleo, minério de ferro. O apetite chinês fez a tonelada da commodity atingir US$ 92,20 na segunda-feira 13, a maior cotação desde meados de 2014.

Posição confortável: unidades no Exterior tornam a empresa de André Gerdau a preferida dos analistas
Posição confortável: unidades no Exterior tornam a empresa de André Gerdau a preferida dos analistas (Crédito:Marcelo Min/ Editora Globo)

Há um ano, as cotações eram de US$ 35 por tonelada. “Os Estados Unidos estabelecem os preços dos ativos financeiros, e a China determina as cotações dos ativos reais, como o minério de ferro”, diz Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da consultoria Eleven Financial. No caso da Vale, referência do setor, o custo de uma tonelada entregue no porto oscila ao redor de US$ 13, o que representa uma larga margem de lucro e uma excelente rentabilidade, e isso beneficia as siderúrgicas. Não por acaso, o setor de commodities, que inclui não só as ações da mineradora como também os papéis das empresas de aço, tem brilhado na Bolsa. O Índice Bovespa superou 68 mil pontos na quarta-feira 15, algo que não ocorria na bolsa brasileira desde fevereiro de 2012.

O avanço nas cotações do minério é uma boa notícia para a CSN. Ela só perde para a empresa presidida por Murilo Ferreira na lista das exportadoras brasileiras desse insumo, e obteve cerca de 30% de sua receita com a commodity no terceiro trimestre do ano passado, último dado disponível. No ano, suas ações subiram 16,5%, e desde 2015 ao avanço é de 216%. O que movimenta as cotações é a expectativa do mercado de que a alta do minério ofereça uma saída para as dívidas de R$ 25,8 bilhões do grupo controlado por Benjamin Steinbruch. A maior parte dos vencimentos concentra-se entre o fim de 2017 e meados de 2018, e é consenso entre os analistas que a companhia precisa vender ativos para honrar essas obrigações.

As atividades de mineração estão no topo da lista, e a alta do minério atrai compradores, mas o negócio deve demorar para sair. “Aparentemente, o preço pedido é elevado e ninguém ainda topou ser sócio de Benjamin Steinbruch”, diz um profissional de mercado com conhecimento das negociações. A Usiminas vive em meio às disputas entre seus maiores acionistas, os ítalo-argentinos da Ternium e os japoneses da Nippon Steel, o que aumenta a incerteza sobre seu futuro. A companhia renegociou sua dívida de mais de R$ 100 bilhões no ano passado, diluindo a maior parte dos vencimentos entre 2018 e 2026.

Exportações lucrativas: a Vale, de Murilo Ferreira, produz minério a US$ 13 e vende a US$ 92
Exportações lucrativas: a Vale, de Murilo Ferreira, produz minério a US$ 13 e vende a US$ 92 (Crédito:Stefano Martini / Ag. Istoe)

Em setembro de 2016, 7% das exportações da Usiminas foram para os Estados Unidos, onde ela não tem unidades de produção. “As medidas protecionistas de Trump podem afetar a companhia”, afirma Felipe Martins Silveira, analista da Coinvalores. Mesmo assim, o acerto do passivo turbinou as ações. Para os analistas, a empresa melhor posicionada é a Gerdau. Na terça-feira 14, para aliviar a poluição, o governo chinês ordenou às siderúrgicas locais que interrompessem sua produção até o fim de março. Isso fez com que as cotações do aço na China superassem US$ 100 por tonelada pela primeira vez em três anos. Mesmo assim, o consumo deverá permanecer elevado.

Um pacote deUS$ 30 bilhões em investimentos na infraestrutura, anunciado em setembro passado, deve manter a demanda aquecida. A notícia é especialmente boa para a empresa presidida por André Gerdau, que exporta a maior parte de sua produção, mas cujas vendas ao Exterior haviam caido 31,7% no terceiro trimestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015. Os preços menores desestimularam as exportações, mas a retomada de preços deve reverter essa tendência. A companhia de origem gaúcha tem a posição mais confortável entre seus pares em relação ao endividamento e à liquidez, segundo a agência de classificação de risco Moody’s. Não por acaso, é a ação recomendada tanto pela Eleven Financial quanto pela Coinvalores.

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