O executivo brasileiro Alexandre Coelho assumiu, há duas semanas, uma das mais importantes instituições financeiras dos Emirados Árabes, o Al Hilal Bank. O executivo, que integra um seleto time de profissionais estrangeiros na terra dos xeiques, terá a missão a turbinar as operações do banco em meio às transformações econômicas que atravessam os complexos territórios árabes. Acompanhe, a seguir, sua entrevista:

O que levou o sr. a assumir a presidência do Al Hilal Bank?
Tive a boa sorte de iniciar minha carreira no mercado financeiro, nos anos 1990, no BBA Creditanstalt, uma escola incrível. Trabalhei também no ABN Amro e, nos Estados Unidos, para o Credit Agricole e Daiwa Capital Markets. Foi uma trajetória em etapas. No Brasil, comecei em banco de investimentos e corporativo. Em Nova Iorque, era responsável pela cobertura da América Latina e, depois, por toda a operação nos EUA e Américas. Em 2015, fui chamado para fazer parte de um time de executivos globais para reestruturar um banco no Oriente Médio, o Al Rajhi Bank. Com o fim do mandato e sucesso na reestruturação, fui convidado para assumir o Al Hilal Bank, em Abu Dhabi. Em paralelo, leciono na Universidade de Nova Iorque, a NYU.

Por que um banco dos Emirados Árabes quis um executivo brasileiro?
Na verdade o Al Hilal buscava um executivo com experiência, verdadeiramente global, com track record em execução e transformação. A experiência em mercados emergentes, Nova Iorque e Oriente Médio pesou muito na escolha.

Há algum plano estratégico do banco para o mercado da América Latina?
Por enquanto, não. O foco é consolidar o banco nos mercados regionais.

O que diferencia a cultura de um banco dos Emirados dos demais?
Muito pouco. É interessante notar que, no que diz respeito à gestão das operações bancárias, as organizações financeiras operam com muitos denominadores comuns. Entretanto, a cultura é outro universo. Cultura corporativa não tem passaporte nem fronteiras. Por exemplo, a Caixa e o Itaú têm pouco em comum em termos de cultura. Já o Bradesco e o Bank of America são mais próximos. Ambos são focados em varejo doméstico, processos e sistemas.

Como o Al Hilal Bank trata de suas questões de ‘compliance’?
Levamos todos os aspectos relativos a compliance com muito rigor e disciplina. Compliance é muito mais que um departamento no banco. Compliance precisa fazer parte da rotina de 100% dos funcionários. O nosso rating (Moodys A1/Fitch A+) reflete a solidez do banco e sua reputação nos mercados globais.

Como é dividida a carteira de clientes do banco?
É bem balanceada entre varejo e atacado. Temos mais clientes regionais.

Qual é o total de ativos do banco e qual a meta de crescimento?
O banco tem, atualmente, 43 bilhões de Dirhams em ativos (o equivalente a R$ 36,1 bilhões), divididos quase que igualmente entre nossas operações de varejo e atacado. Temos como plano incrementar nossas operações de forma uniforme. Além das operações tradicionais, daremos foco ao banco de investimento, private banking, asset management, mercado de capitais. Queremos fechar 2017 em forte tom, para entrar em 2018 com bom ritmo.

Como o acirramento dos conflitos do Oriente Médio tem afetado suas operações e como se proteger de investimentos de grupos extremistas?
No que tange aos Emirados Árabes, Dubai e Abu Dhabi, por exemplo, não vejo nenhum tipo de correlação. Os conflitos a que se refere não afetam de nenhuma maneira nossas operações ou o dia-a-dia nesta parte do Oriente Médio.

A riqueza do mundo árabe, nos próximos anos, será cada vez menos dependente do petróleo. Qual a sua opinião sobre isso?
Sim, é verdade. Com algumas exceções, praticamente todos os países do Oriente Médio estão buscando a diversificação. O corredor Dubai-Abu Dhabi será visto não só como um hub internacional financeiro e turístico, mas também como um polo industrial, logístico e provedor de serviços. O Al Hilal tem papel importante nessa trajetória e fará parte dessa transformação por meio de inovação digital e atenção detalhada aos clientes.

Como o banco e o sr. avaliam o atual momento da economia brasileira?
Não é segredo que, infelizmente, o Brasil saiu do radar e perdeu influência e prestígio no âmbito internacional. Os mercados globais têm “memória” e os acontecimentos no País, nos últimos dez anos, não serão apagados com liquid paper. O período de pretensa exuberância e delírio, seguidos de ressaca e caça às bruxas, deveria servir de divisor de águas entre esta e as próximas gerações. A nação não aceita mais, e não merece, este cardápio.