O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de dezembro corroborou o pessimismo com o Produto Interno Bruto (PIB) no final do ano passado e indica um carrego estatístico para este ano. Analistas ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real da Agência Estado, acreditam em leve expansão no primeiro trimestre, mas o consenso é que o crescimento em 2017 será bastante fraco.

O IBC-Br de dezembro teve baixa de 0,26% ante novembro, com ajuste sazonal, um pouco pior que a mediana dos analistas. Na comparação com dezembro de 2015, houve queda de 1,82%, contra mediana de -1,80. Já no acumulado do quarto trimestre, o indicador recuou 0,36% ante o terceiro.

Segundo o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, apesar de alguns índices de atividade com resultados favoráveis em dezembro, na margem, caso da produção industrial e do setor de serviços, o IBC-Br encerrou o ano passado bastante fraco, em razão das condições adversas da economia no período. “Apesar desses dados, de modo agregado, não houve melhora no indicador”, diz.

O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, projeta contração de 0,6% no PIB do quarto trimestre, mas afirma que esse número pode ser ainda pior, ficando perto do desempenho do terceiro trimestre, quando a queda foi de 0,8%, na margem.

Ainda que a queda no PIB do quarto trimestre tivesse sido amena, o carrego estatístico gerado para 2017 seria bastante negativo. O economista da consultoria Pezco Hélcio Takeda projeta que o PIB nos últimos três meses de 2016 encolheu 0,2%, o que geraria um carrego negativo de 0,68 ponto porcentual para este ano. Se a queda do quarto trimestre vier igual ao mostrado pelo monitor do PIB da FGV, também divulgada hoje, de 0,89%, o carrego seria de -1,19 pp.

“Já sabíamos que 2016 seria um ano forte de queda, mas o principal destaque negativo é que não vimos estabilização no final do ano, o que deve levar a um carrego estatístico negativo de 0,8 pp para o ano que vem”, explica a economista do Banco ABC Brasil Natália Cotarelli.

Para o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, a queda de 4,34% do IBC-Br em 2016 é mais um indício de que a recuperação da economia será “lenta e demorada”. Segundo ele, os dados indicam que o PIB do Brasil está agora no mesmo nível de dezembro de 2009. Mesmo assim, o analista aponta que após dois anos e meio de forte recessão, a economia está mostrando sinais de estabilização “na margem” e agora se aproxima do ponto de inflexão.

As projeções para o primeiro trimestre de 2017 são mistas, mas a maioria dos analistas aposta em leve alta. A SulAmérica, por exemplo, prevê expansão de 0,2%, enquanto o Bradesco projeta 0,1%. O impulso da retomada, conforme relatório do banco, deve vir do desempenho “bastante positivo do setor agropecuário.”

Em relação ao desempenho da economia no resultado fechado deste ano, os analistas apontam que existem alguns fatores positivos, como a expectativa de safra recorde e uma eventual retomada de investimentos, além da forte queda da Selic. Por outro lado, o elevado nível de alavancagem das famílias e empresas e a deterioração do mercado de trabalho impedem uma melhora substancial no consumo. “Este ano não é uma retomada, é uma estabilização. Em 2018, sim, podemos ter um desempenho mais forte”, resume Camargo Rosa. Ele prevê crescimento de apenas 0,3% em 2017.

Takeda, da Pezco, tem uma visão mais otimista. Ainda com a projeção de um forte carrego negativo, ele estima crescimento de 2% do PIB este ano, bem acima da mediana do mercado, de 0,48%, segundo a Focus. De acordo com ele, essa expansão deve ser puxada por investimentos e as exportações líquidas. Além do programa de concessões do governo federal, ele aponta que muitas cidades devem licitar o sistema de iluminação pública e também empresas de saneamento. Além disso, há uma expectativa positiva com a indústria extrativa, já que muitas commodities metálicas subiram bastante nos últimos meses. “Obviamente que posso ter uma frustração com essa minha projeção para o PIB, mas hoje ainda acho prematuro revisar para baixo”, comenta.

No curto prazo, a decepção com o IBC-Br se soma às recentes surpresas baixistas com a inflação e à queda do dólar para elevar as expectativas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana. A maioria dos analistas ainda prevê corte de 0,75 ponto porcentual, mas admite que as chances de uma afrouxamento mais agressivo, de 1 pp, estão crescendo. “Na comunicação do BC não há nenhum sinal claro de que poderia acelerar o ritmo, por isso mantenho meu call de 0,75 pp. Mesmo assim, o BC tem ressaltado que é data dependent, então há chance sim de cortar mais”, explica Camargo Rosa.