Em um tuíte em 30 de junho, o empreendedor Elon Musk anunciou que o Model 3, da fabricante americana de carros elétricos Tesla, havia passado em todas as exigências regulatórias para começar a produção duas semanas antes do previsto. O veículo é o modelo “mais popular” da companhia do empreendedor sul-africano, radicado nos EUA. Custa apenas US$ 35 mil, enquanto seus outros dois carros, o S e X, começam a partir de US$ 80 mil. Com isso, a montadora se prepara para a produção em larga escala de carros elétricos, um feito notável para uma empresa que surgiu em 2003. A previsão é de que saiam de suas fábricas, na Califórnia, 500 mil deles em 2018. Dois anos depois, devem ser 1 milhão.

O curioso é que, desde que os números otimistas foram revelados, a Tesla começou a sofrer com o mau-humor dos investidores. A empresa, que era a montadora mais valiosa dos Estados Unidos, foi superada pela GM, que retomou a liderança perdida em abril deste ano. Na quinta-feira 6, a companhia com sede em Detroit, no coração da indústria automobilística americana, valia US$ 52,6 bilhões. A de Elon Musk, US$ 50,6 bilhões. O valor de mercado da Tesla ainda é bem alto para uma montadora que produziu apenas 84 mil veículos em 2016. GM e Ford, juntas, precisariam de apenas 15 dias para atingir essa marca. Mas a Tesla vê seu valor abatido em um momento em que se prepara para alçar voos mais altos. “Os investidores estão descobrindo que a velocidade de adoção do carro elétrico deve ser mais lenta do que o esperado”, afirma Rodrigo Custódio, diretor da área automotiva da consultoria Roland Berger.

Ligada na tomada: a sueca Volvo decidiu que só fabricará carros elétricos e híbridos a partir de 2019 (Crédito:Divulgação)

Um indicativo disso foram as vendas de seus modelos S e X. No segundo trimestre deste ano, a montadora de Musk vendeu 22 mil carros, uma alta de 53%. Mas abaixo das estimativas de analistas, que esperavam 23,6 mil entregas. A empresa alegou que enfrentou problemas com o fornecimento de baterias. Essa queda, porém, foi o suficiente para o mercado questionar a capacidade da Tesla de produzir 500 mil carros em 2018. “Musk define metas muito agressivas, mas raramente as cumpre”, diz Rob Enderle, analista consultoria Enderle Group. “Ele ainda está tendo problemas de produção na fábrica, o que torna esses números muito improváveis.” Um relatório do analista David Tamberrino, do Goldman Sachs, recomendou a venda dos papéis da companhia. Outro analista também se mostrou decepcionado. “Se a produção foi baixa em abril e maio, por que os executivos da empresa não discutiram essa questão quando divulgaram os resultados do primeiro trimestre?”, indagou Toni Sacconaghi, da Sanford C. Bernstein.

Força japonesa: o Nissan Leaf detém uma fatia de 20% do mercado mundial de carros elétricos (Crédito:Divulgação)

Soma-se a esse fator, o aumento da competição no mercado de carros elétricos. Na quarta-feira 5, a sueca Volvo deu literalmente um choque na Tesla. A montadora que pertence ao grupo chinês Geely anunciou que só produzirá carros elétricos e híbridos a partir de 2019. Com isso, ela se tornará a primeira grande empresa do setor automobilístico a abandonar o carro com motor à combustão. Mas não é só a Volvo que está apostando nessa área. As alemãs BMW e Volkswagen, a japonesas Nissan e Toyota ou as americanas GM e Ford contam com veículos para competir com a Tesla. Os carros elétricos ainda são um mercado incipiente. Dos 17,5 milhões de veículos vendidos nos EUA, em 2016, apenas 1% era movido à eletricidade. Mas os analistas são unânimes em afirmar que milhões de unidades devem ser vendidas nos próximos anos. De acordo com o centro de pesquisa Bloomberg Intelligence, 35% dos carros produzidos em 2040 deverão ser elétricos.

Outra força que deve mudar o setor é o carro autônomo. As empresas do Vale do Silício estão à frente nessa corrida. A Waymo, que pertence a Alphabet, holding que controla o Google, deve ter receitas superiores a US$ 200 bilhões em 2030, segundo estimativas de banco de investimento Morgan Stanley. A Uber, em parceria com a Volvo, também faz testes com carros sem motorista. A Tesla, por enquanto, aposta apenas em veículos semiautônomos. A GM também não está parada. Além de investir no elétrico Bolt, ela é dona de uma fatia de 9% do Lyft, rival da Uber, e, em 2016, pagou US$ 600 milhões pela Cruise, uma empresa que desenvolve sistemas de veículos autônomos. Musk é considerado por muitos o sucessor de Steve Jobs, o fundador da Apple, mas terá de usar de toda sua engenhosidade para enfrentar os titãs do setor.