O economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou, ao falar sobre a economia brasileira durante debate na noite desta quinta-feira, 22, em São Paulo, que o paciente está na UTI, o governo pode ter que elevar impostos para conter o rombo nas contas públicas e a qualidade do funcionamento das instituições preocupa em meio ao agravamento da crise política.

“Além do ziguezague econômico, vejo ziguezague na qualidade do funcionamento das instituições extremamente preocupante”, disse Fraga. O ex-presidente do BC destacou que os mecanismos que permitiriam uma recuperação maior da economia estão travados e que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que não cassou a chapa que elegeu a presidente Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014, prejudicou a trajetória de recuperação da atividade.

As decisões do Judiciário não podem ser pautadas por visão equivocada do que está acontecendo na economia, afirmou Fraga. “Seria natural que numa recessão profunda houvesse mecanismos de recuperação em funcionamento. Eles estão travados”, disse ele.

Fraga observou que, sem reformas estruturais, a medida que estabelece um teto para a alta dos gastos públicos é “totalmente insustentável”. “Nosso problema econômico é enorme”, disse Fraga durante o debate, ressaltando que o Brasil também está vivendo um momento “meio estranho”, em que não existe respeito e credibilidade nos partidos.

O impeachment de Dilma gerou um choque positivo no mercado e nas expectativas dos agentes, ressaltou Fraga. A agenda de reformas de Temer também agradou, mas nas últimas semanas o quadro se alterou, em meio às novas denúncias geradas pela delação da JBS. “Estamos vendo o Brasil velho, com seus representantes que nós elegemos tentando se safar”, disse o ex-presidente do BC.

Fraga disse que as medidas propostas por Temer têm impacto mais de médio prazo. Ao mesmo tempo, com o quadro de alta incerteza, é difícil conseguir enxergar os próximos 18 meses. “O grau de incerteza é imenso”, disse o executivo. Fraga ressaltou que os investidores estrangeiros estão mostrando maior confiança no Brasil, mas não descartou o risco de que as “forças que jogaram o Brasil nesta situação” possam ganhar espaço nas eleições de 2018.