Há um ditado popular no qual se diz que o homem é dotado de dois ouvidos e uma única boca, razão pela qual deve ouvir mais e falar menos. Dois elementos podem se agregar ao enunciado: falar de improviso, sem nenhum preparo, e usar as mídias sociais sem raciocinar, piora ainda mais o cenário. Foi o que se viu na quarta-feira 8, no Dia Internacional da Mulher, quando o presidente Temer fez uma ilação desastrosa sobre o papel feminino na sociedade ao relacionar a mulher ao trabalho doméstico, citando sua esposa Marcela como exemplo. E foi além ao dizer que a mulher tem “uma grande participação na economia” porque ninguém é mais capaz do que elas para indicar “os desajustes de preços no supermercado”.

O resultado, previsível, foi a ira de muitas brasileiras que se sentiram ofendidas, em um episódio que “viralizou” na Internet rapidamente. Não foi um caso isolado de discurso ao léo, sem reflexão. Sua antecessora, a presidente Dilma Rousseff, também ficou marcada por mensagens em que fala de “estocagem de vento” em uma alusão à energia eólica. Em cerimônia com índios, a presidente que sofreu o impeachment saudou a “mandioca” e inventou uma nova espécie: “as mulheres sapiens”. Outras pérolas também foram disparadas por diversos presidentes brasileiros. Não é novidade quando se visitam os discursos dos mandatários. Mas há, contudo, um elemento comum a todos, desconsiderando-se a sempre avaliação subjetiva e política que cada um possa ter sobre determinado personagem.

O elo está na comunicação despreparada, uma autoconfiança desmedida para versar sobre temas por vezes complexos, que não dominam, usando uma retórica enviesada. Não é vergonha a ninguém ler um discurso alinhavado por assessores, os chamados “ghost writers”. Grandes líderes o fizeram, no passado, como o primeiro ministro britânico Winston Churchillin, o presidente francês Charles De Gaulle e o presidente americano John F. Kennedy, só para citar alguns exemplos. Cercavam-se de intelectuais e de diplomacia para a tarefa.O resultado era avassalador. Comunicavam-se às massas de forma clara, objetiva, lendo um bom texto escrito por seus pares.

No Brasil, talvez pela tradição de nossos colonizadores à verve desmedida, esta prática não vingou. Quem nunca passou pela experiência de ver uma autoridade, já no púlpito, dizer que havia preparado um discurso longo, mas que preferiria falar de improviso? Na era da tecnologia da informação, outro problema subjacente ao improviso são as mídias sociais. Que o diga o presidente Donald Trump e suas “tuitadas” desconexas. Quando o líder escreve sem pensar, dissipa rancores e informações sem checar nas redes sociais, sem raciocinar, o resultado é ainda pior.

No caso do presidente americano, pode-se aludir que não há nenhuma pensata ou revisão do que escreve em sua página na internet. Como se estivesse falando a um punhado de amigos em um churrasco, sem se dar conta das consequências. Isto quer dizer que o discurso improvisado, ao vivo, e a mensagem disparada em um smartphone deve ser banida? Claro que não. Mas bom senso é fundamental, além de humildade em se admitir que é humanamente impossível dominar todos os assuntos. Quando se ocupa um cargo público, comunicar-se bem é tarefa primordial de um bom líder. Omitir-se é ainda pior e, parafraseando Chacrinha, o velho guerreiro, “quem não se comunica, se trumbica!”.