As vendas online vêm crescendo a taxas chinesas no Brasil. No ano passado, as transações eletrônicas movimentaram R$ 53,4 bilhões, de acordo com Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. Esse crescimento vem incentivando mais e mais empresas de tecnologia voltadas ao segmento financeiro, as chamadas fintechs, a explorar os pagamentos eletrônicos. Segundo a aceleradora de startups americana Finnovation, 31% das 219 fintechs brasileiras dedicam-se a meios de pagamento. Essa é uma das atividades mais frequentes, ao lado de investimentos, seguros e crédito.

Essa predileção justifica-se porque o comércio eletrônico, mais barato para o vendedor e mais prático para o comprador, foi menos afetado pela crise. As vendas on-line responderam por 15% do movimento do varejo em 2016. Para que esse percentual cresça, as transações precisam ser processadas de maneira ágil e segura. De olho nesse mercado, há três meses, a fintech brasileira Pagar.me colocou no ar um sistema de boletos que permite mais flexibilidade nas vendas.

Além de intermediar pagamentos, o sistema permite parcelar as vendas e realizar o estorno parcial do valor de uma compra, solução que foi adotada nas vendas on-line do Magazine Luiza. “A possibilidade de devolver parte dos valores ao consumidor, e o processamento rápido das transações melhoram a vida do consumidor e melhoram o controle do inventário para o varejista”, diz Leonardo Frisso, CEO da Pagar.me. A projeção da empresa é processar R$ 2 bilhões em transações neste ano. Nada mau para uma empresa fundada em 2013 pelo carioca Pedro Franceschi e pelo paulista Henrique Dubugras, quando ambos tinham 17 anos.

Novatas engajadas: Leonardo Frisso, CEO da Pagar.me (à esq.), foca nos brasileiros desbancarizados, enquanto Jean Christian Mies, VP da Adyen (à dir.) investe nas carteiras virtuais
Novatas engajadas: Leonardo Frisso, CEO da Pagar.me (à esq.), foca nos brasileiros desbancarizados, enquanto Jean Christian Mies, VP da Adyen (à dir.) investe nas carteiras virtuais (Crédito:Stefano Martini e Divulgação )

No ano seguinte, a startup recebeu R$ 1 milhão dos fundos Arpex Capital e Grid Investments. O otimismo com o negócio não é descabido. “Os desbancarizados não necessariamente são pessoas sem capacidade para consumir produtos financeiros. Isso representa uma enorme oportunidade para as fintechs inovarem e deslancharem”, diz Guilherme Horn, Chief Innovation Officer da consultoria Accenture, uma das patrocinadoras da Finnovation. Isso ocorre porque o mercado brasileiro tem suas peculiaridades. Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55 milhões de brasileiros com mais de 18 anos, 42% da população adulta, não têm conta em banco.

Comprar a crédito é a regra: 70% das vendas são parceladas. A maioria dos pagamentos é realizada em dinheiro, por meio de boletos, nas casas lotéricas, o que causa pesadelos logísticos nas empresas de comércio eletrônico. “Um pagamento via boleto demora até três dias para ser compensado, e isso gera uma enorme ineficiência para o varejo devido à assimetria de informação”, diz Luiz Antonio Sacco, presidente para a América Latina da empresa de pagamentos americana Safety Pay. “O estoque tem de ficar bloqueado até o pagamento ser compensado. Se o cliente gerar o boleto, mas desistir da venda, o comerciante não é capaz de vender aquele item para outra pessoa”, diz ele.

Outra a investir nesse mercado é a holandesa Adyen, que iniciou as operações no Brasil em 2011, e, em 2016, contabilizou R$ 22 bilhões em transações processadas. Ela desenvolveu a plataforma que, desde o início de maio, permitiu à Uber no Brasil aceitar pagamentos com cartões de débito. Usualmente, essas operações obrigam o cliente a acessar os sites de instituições financeiras, o que exige uma nova autenticação e interrompe a experiência de compra no e-commerce.

“Em parceria com a MasterCard, eliminamos essa etapa. Nossa expectativa é que isso impulsione essa modalidade de pagamento no e-commerce no Brasil”, diz Jean Christian Mies, vice-presidente da Adyen para a América Latina. O executivo não revelou que outras empresas estão avaliando a adoção dessa tecnologia. No ano passado, a Adyen foi autorizada a atuar como adquirente no País. Isso significa que, além de garantir a segurança nas transmissões das informações e a análise de fraudes, ela passou a atuar como interface entre a loja virtual e os compradores e vendedores.

Essa etapa passa também pela checagem de dados com o emissor do cartão de crédito, por exemplo. Hoje, boa parte dos esforços do time local de desenvolvedores está na criação de carteiras virtuais. Essas aplicações reúnem, em dispositivos móveis como smartphones e tablets, os dados de cartões de crédito e outras informações do usuário, permitindo compras sem a utilização física dos cartões. “Somos uma empresa de tecnologia e nossa missão é tornar o processo de pagamento imperceptível”, afirma Mies.


B3 e bancos investem em transações via blockchain

Grandes bancos, como Itaú Unibanco e Bradesco, e a B3, resultado da fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip, há tempos acompanham as movimentações das fintechs. E, na terça-feira 30, o trio resolveu investir em uma delas. Trata-se da americana R3, que captou US$ 107 milhões em sua segunda rodada de financiamento. A R3 lidera um consórcio que reúne 80 instituições – bancos centrais, instituições financeiras e gestores de recursos, entre outros – em cinco continentes, e que se dedica a pesquisar soluções de blockchain, tecnologia por trás da moeda eletrônica bitcoin.

Com base no blockchain, é possível realizar transações financeiras internacionais instantâneas e a baixo custo, de forma segura. Segundo comunicado da R3, os recursos serão usados para desenvolver uma plataforma única e segura de ledger, jargão para os registros contábeis e de operações, que poderá ser compartilhado pelas instituições financeiras, e que deve gerar potencial de redução de custos e de aceleração da velocidade de compensação das transações. A B3 é a primeira bolsa no mundo a aderir ao consórcio.