As autoridades iraquianas anunciaram neste sábado uma ofensiva em vários bairros da cidade de Mossul ainda nas mãos do grupo Estado Islâmico (EI).

“As Forças Armadas atacaram o bairro de Al-Shifa e o Hospital republicano”, indicou o Comando Conjunto das Operações (JOC), que coordena a luta contra o EI no Iraque.

“A Polícia Federal (atacou) o bairro de Zinjili e as forças de contra-terrorismo (CTS, unidade de elite) atacaram o bairro de Al-Saha al-Ula”, indica em um comunicado.

Estes três distritos estão localizados ao norte da Cidade Velha, um labirinto de ruas estreitas densamente povoadas, onde os extremistas se preparam para o assalto final das tropas iraquianas.

Eles detêm cerca de 250.000 civis, de acordo com responsáveis humanitários e organizações de direitos humanos, a fim de utilizá-los como “escudos humanos”.

Um dia antes, a Polícia Federal havia indicado ter visado posições do EI com “intensos bombardeios de foguetes Grad, artilharia de campo e dispositivos de observação aérea”, provavelmente drones armados.

Segundo ela, trata-se da preparação do ataque à Cidade Velha “nas próximas horas”.

O JOC, no entanto, não fez nenhuma menção de um ataque neste sábado à parte histórica da cidade.

Desde outubro de 2016, as forças do Exército, do ministério do Interior e da polícia, apoiadas pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, conduzem uma vasta ofensiva para reconquistar Mossul, segunda maior cidade do Iraque, localizada no norte do país e que foi tomada pelo EI em junho de 2014.

No fim de janeiro, as forças do país assumiram o controle da zona leste da cidade e, em 19 de fevereiro, iniciaram o ataque contra a zona oeste, incluindo a área antiga, uma zona densamente povoada com ruas estreitas, que dificultam o avanço das tropas.

– Civis sem saída –

No início da semana, os oficiais militares anunciaram ter lançado “centenas de milhares de folhetos” nos bairros ainda sob controle do EI pedindo “aos cidadãos para se juntar às forças de segurança por meio de corredores seguros”.

Este anúncio provocou “profunda preocupação” da ONG Save the Children. “Os apelos para que a população deixe o oeste de Mossul expõe os civis, principalmente as crianças, ao perigo de serem apanhados no fogo cruzado (…) O governo iraquiano deve garantir que os corredores sejam verdadeiramente seguros”, ressaltou.

Estas instruções “contradizem completamente as orientações anteriores para que permanecessem em casa e esperassem o final da batalha”, acrescentou.

Mais de meio milhão de pessoas fugiram dos combates ​​e bombardeios que mataram dezenas de civis na cidade.

Os Estados Unidos reconheceram na quinta-feira o pior erro cometido pela coalizão desde o início de sua campanha de ataques aéreos contra o EI, com 105 civis mortos em um bombardeio em 17 de março.

A investigação militar americana atribuiu, no entanto, esse balanço ao EI, que havia colocado uma grande quantidade de explosivos no prédio visado pelo ataque. A “explosão secundária” derrubou todo o edifício, matando as 101 pessoas que haviam se refugiado lá, bem como quatro vizinhos, de acordo com o relatório da investigação.

O ministério do Interior iraquiano também anunciou o lançamento de uma investigação sobre acusações de tortura, execuções sumárias e estupros por alguns soldados da Força de Reação Rápida (QRF) contra prisioneiros.

Um fotojornalista iraquiano junto a esta unidade de elite afirma ter testemunhado esses abusos revelados pelo semanário alemão Der Spiegel e pelo canal americano ABC.