Como é para uma empresa brasileira competir em um mercado de alta
tecnologia?
É um desafio grande para uma empresa de um mercado emergente. Na aviação, via de regra, os países desenvolvidos dominam. Mas temos uma trajetória de 47 anos. Se olharmos para trás, veremos que várias companhias sucumbiram.Nossa engenharia tem uma competência muito grande. Investimos US$ 5 bilhões, nos últimos cinco anos. Fechamos um ciclo de desenvolvimento. Hoje estamos no estado da arte em termos de avião.

E qual é o próximo ciclo?
Essa é uma boa pergunta. No momento, precisamos monetizar esses investimentos entregando os aviões. Tem muita coisa acontecendo no mundo hoje. Novas tecnologias e modelos de negócios, a era digital etc. Ninguém sabe, hoje, como a transformação vai acontecer. Eu vou dar um exemplo: como o carro autônomo vai impactar a aviação? Dependendo da região e do segmento, pode ser uma transformação profunda. Voos de até uma hora e meia, com o carro autônomo, que, na minha visão, se torna realidade em três ou cinco anos, se tornarão obsoletos. Nosso negócio é avião. Mas precisamos entender que avião será esse, no futuro.

Consegue dar alguma ideia do futuro?
Em termos de produto, acho que um avião híbrido, elétrico e combustível, é uma tendência. O avião elétrico, com energia solar, está cada vez mais no radar. Para deixar claro, a Embraer não está desenvolvendo um avião híbrido, mas temos equipes que analisam isso. Existem desafios enormes, como a armazenagem da energia.

Como a eleição de Donald Trump, nos EUA, afeta a Embraer?
É cedo para dizer. Mas, mudanças no mundo são coisas normais. A gente já passou por várias situações. Tivemos o 11 de Setembro, por exemplo. Ninguém sabia o que ia acontecer. Mas o mundo sobreviveu, voltou a crescer e a Embraer se desenvolveu muito depois disso. Naquele momento, 90% dos nossos jatos eram entregues nos EUA. Foi um desafio. O mercado colapsou. Essa nova administração não nos assusta. Pode até ser bom. Precisamos esperar.

A Embraer venceu a Lockheed Martin em uma licitação nos EUA, em 2015, e entrou em uma disputa legal com a empresa. Em seguida, foi alvo de investigações de corrupção no país. Esses fatos tiveram alguma relação?
Eu acho que não têm ligação. Ganhamos a licitação da Força Aérea Americana com o Super Tucano porque tínhamos o melhor avião. Ponto. E eles estão muito satisfeitos. O caso de corrupção foi uma coisa à parte. Anos atrás, a Embraer não teve a governança necessária para atuar em certas operações. Houve uma investigação de seis anos. Colaboramos voluntariamente. Em três operações, foram encontrados problemas que envolvem 16 aviões, em um universo de oito mil. Foi lamentável, somos responsáveis, mas não vai mais acontecer.

0 que mudou na empresa, na prática?
Todos os sistemas, a forma como gerenciamos relacionamentos. Queremos conhecer nossos parceiros e clientes, quem está por trás deles. Ética é um ponto fundamental. Se tivermos de perder vendas, vamos perder.