O mercado teve um forte ajuste no sentido positivo nos últimos dias. Os agentes econômicos precificaram para cima a conquista de Temer com a reforma trabalhista e a condenação de Lula. Saltos de ações na bolsa, queda no câmbio e apostas de juros na casa de um dígito pautaram as movimentações da banca e o humor de empresários e financistas. A maioria está convencida de que o mandatário tem condições – mais do que qualquer um no momento – de levar adiante as reformas, se o deixarem seguir no cargo.

Empreendedores e investidores consideram a reforma trabalhista, agora aprovada, uma vitória pessoal de Temer, um marco extraordinário de transformação e mais um sinal concreto de que as mudanças para a retomada do desenvolvimento estão em andamento, tal qual o teto para os gastos públicos (que exigiu emenda constitucional), a revisão das regras para estatais e a negociação da dívida dos Estados. O pacotão desses ajustes, no curto espaço de tempo em que foi alinhavado e entrou em vigor, deu a entender para o setor produtivo que a capacidade de negociação política do peemedebista conta muito apesar da crise de credibilidade aberta após as denúncias contra ele. Do mesmo modo, a praça ficou animada com o enfraquecimento da candidatura Lula.

A viabilidade eleitoral do líder petista vem ficando cada dia mais remota diante do festival de processos cujas sentenças começam a sair com veredicto nada favorável.
O mercado entende que ele – após as declarações que tem feito – causaria um gigantesco desastre na economia com propostas populistas e inviáveis. Por isso mesmo, tê-lo de volta no Planalto seria um pesadelo. Lula, no passado, conseguiu atrair a atenção e razoável apoio desse público quando flexibilizou seu programa de medidas ortodoxas. A mesma manobra não deve ocorrer em uma eventual nova candidatura. Isso é líquido e certo, acreditam os investidores, que perderam a confiança nas promessas do petista.

De uma maneira ou de outra, o fato é que a economia tem resistido bem à piora da crise política, avançando quase descolada dela. Projeções da inflação perto de 3% no ano – podendo registrar em alguns meses inclusive deflação – demonstram que os indicadores monetários vão se moldando a nova realidade e caminham para uma estabilidade que deve, no momento seguinte, gerar mais confiança dos agentes. Principalmente dos consumidores, que aguardam a superação das disputas em Brasília para tocar seus projetos pessoais. A vitória de Temer e o revés de Lula fazem
parte desse contexto.

(Nota publicada na Edição 1027 da Revista Dinheiro)